29.6.07

Vendida uma história de 50 anos

Leio outra notícia, na pilha de conteúdo que se acumula no meu desktop, e fico nostálgica. A venda da Manchete por R$ 28.391.000,50 . Para quem, como eu, trabalhou para a família Bloch, bate uma sensação de abandono, abandono dos sonhos. "Vendida uma história de 50 anos". Esta foi a primeira frase ouvida após o martelo ser batido no leilão da sede da Bloch Editores, na terça-feira (26/06). A Universo, inquilina do imóvel, pretende criar no local a Universidade Virtual da Universo e um centro cultural. Tudo dentro do ideal de Adopho Bloch. "Já investimos R$ 6 milhões em reformas no prédio. Inclusive restauramos a escultura que fica na praça em frente", informou Jefferson Salgado de Oliveira, presidente da Universo. Tantos ideais tinha Seu Adolpho, que tive o prazer de conhecer e encontrá-lo algumas vezes no Rio de Janeiro, e por falta de herdeiros diretos e sobrinhos inteligentes, soube antes mesmo de morrer que seu império chegaria ao fim. Férias nos fazem pensar em coisas que vivemos e outras que faríamos totalmente diferente do que fizemos. Seu Adolpho com certeza não queria ver sua Manchete transformada em Centro Virtual Universo. Eu também não queria ter vivido muita coisa que vivi ou vi, mas também devemos olhar para o que ainda não vimos e desejamos. Eu, por exemplo, quero conhecer a Albânia. Um sonho antigo que será concretizado.

Web 2.0, férias e shampoo

Estou sumida do blog, 10 dias sem postar nada. Tudo que eu detesto nos blogs alheios ocorre no meu...Tanta coisa para contar, idéias para compartilhar e tenho a sensação que as 17 horas diárias que passo acordada, em média, são insuficientes. Mal consigo ter tempo de lavar o cabelo, isso mesmo, aquela tarefa higiênica que, para quem tem cabelos longos como eu, consome em média 20 minutos entre o shampoo, creme, pentear e secar com a toalha. Mas existe esperança. SIM! Hoje entrei de férias e como não poderia deixar de acontecer, acordei sem despertador às 6h da madruga e já estou a mil, como se o corpo ainda estivesse trabalhando.

Nos RSS matinais de hoje aposto no evento Digital Age 2.0, que acontece nos dias 9 e 10 de agosto, em São Paulo, no hotel WTC, e traz especialistas como John Battelle e Martin Lindstrom falando sobre marcas, identidade digital e comportamento de consumidores. Entre os temas que serão debatidos pelos palestrantes internacionais e nacionais, estão: a nova identidade virtual, conteúdo gerado pelos usuários, Second Life e mundos virtuais, para onde caminha o consumidor online, como posicionar a sua marca no novo ambiente digital, entender a dinâmica de blogs, wikis e redes sociais.
Para participar, acesse http://jumpexec.uol.com.br/index.php?sub=3&land=ler&idArtigo=1263

17.6.07

Contêiner no quintal


Semana passada tive uma emoção muito forte. Estive perto, muito perto de centenas de contêineres no porto de Santos. Conhecer o porto já era um desejo antigo, aquelas 300 coisas que precisamos realizar antes de morrer...Mas não sabia que a velha paixão de trabalhar dentro de um contêiner-escritório viria a tona com tanta força. Sim, já desejei ter um contêiner no quintal, um refúgio para poder ficar em silêncio, ouvindo apenas minha respiração. Um lugar para me refugiar do dia-a-dia, das maldades do ser humano, da correria, da falta de amor. Um espaço neutro, só meu. 12 metros que poderiam virar submarino, escritório, espaço de meditação ou mesmo uma sensação de acampar no quintal. Sempre quis uma barraca para acampar no quintal. Meio Bob Esponja eu sei, mas tem vezes que queremos apenas ter um espaço para sonhar.

6.6.07

5 horas em Congonhas

O vazio entre o embarque para Florianópolis e o meu processo mental de criação, ou seja, como minha mente funciona em momentos de absoluta solidão -- apesar da lotação absurda da sala de embarque e da impossibilidade de uma poltrona disponível -- me fez sentar no chão, ler a Folha de S. Paulo, ao mesmo tempo que olhava para o painel com noticiário volátil passando, registrando apenas a manchete sobre a banda U2, cotada para gravar o slogan de Hillary Clinton à presidência dos EUA. Ver o Bono trabalhando para a família Clinton me fez pensar na falência total da sociedade vigente; falência esta que me deixa por 5 horas esperando o vôo 1280. Já preparada para acampanhar no carpete de Congonhas, trouxe trabalhos acadêmicos para corrigir [uma pilha sem fim de textos], o livro "A ilha deserta", de Deleuze, muitos pacotes de Trident de canela, uma garrafa de água com gás [a minha preferida] e revistas de decoração para quando tudo falhar e eu não quiser pensar em nada sério, apenas sonhar com meu novo jardim, sofá ou banheiro.
A previsão do tempo no painel da Clima Tempo avisa que a frente fria já castiga Santa Catarina. Uma senhora com blusa de lã bege, ao meu lado, pede para caseira ligar o aquecedor, guardar lenha e preparar uma sopa de feijão para o jantar. Ela também diz que está levando o salário. Lembro e anoto no bloquinho que também preciso voltar para São Paulo com o salário da empregada em mãos. Canso de ficar acampada e vou até a Lasselva. No trajeto, um expresso puro na Brunella. Automaticamente, ao ler Brunella, me vejo no Guarujá, em meados de 1984, tomando sorvete de pistache na praia da Enseada. Bebo o expresso enquanto me dirijo à Lasselva. Folheio a biografia da Maysa[...] uma mulher de muitos amores. O prefácio diz que sua vida recomeçava e acabava a cada dia. Outro livro tira a minha atenção e dispenso Maysa momentaneamente. "Enquanto o ditador dormia" relata o dia-a-dia de Lisboa dos anos 50. A Lisboa pós guerra, os amores de Alice -- adoro este nome. Mais um Trident de canela. Recebo um torpedo. Leio e volto para a narrativa de Domingos Amaral sobre Lisboa [mais de 200 mil livros vendidos em Portugal desde o lançamento]. Correlação imediata com um livro antigo que adoro "O outono do patriarca" de Garcia Marquez.

Volto ao carpete de Congonhas e decido dar um tempo com os trabalhos acadêmicos. Começo a reler "Raymond Roussel ou o horror do vazio", artigo de 1963 de Deleuze. Decido usá-lo como base para minha aula de sábado na pós-graduação. [...] O vazio será preenchido e transposto pelo quê? Nos pergunta Deleuze [...] por extraordinárias máquinas, por estranhos atores-artesões. As coisas e os seres seguem a linguagem. Tudo nos mecanismos e nos comportamentos é imitação, reprodução, récita [...] são as próprias coisas que se abrem à custa de um dublê, de uma máscara. E o vázio é agora [...]
Tenho fome. Enfim decolo às 13h00 com fome e um vazio interno imenso.