23.1.07

O tempo visível


Pensando em localização, rotas e coordenadas cheguei, ou melhor, voltei a 1905 e reli os sonhos do jovem Albert Einstein, um recém-formado que trabalhava como funcionário de 3ª graduação num escritório de patentes. Albert ficava por longas horas pensando e repensando o tempo.

“É impossível caminhar por uma avenida, conversar com um amigo, entrar em um edifício, relaxar sob os arcos de arenito de uma velha arcada, sem ver um instrumento de medição do tempo. O tempo é visível em todos os lugares. Torres de relógio, relógios de pulso, sinos de igrejas dividem os anos em meses, os meses em dias, os dias em horas, as horas em segundos, cada incremento de tempo marchando atrás de outro em perfeita sucessão. E, além de qualquer relógio específico, uma vasta plataforma de tempo, que se estende por todo o universo, estabelece a lei do tempo igualmente para todos. Neste mundo, um segundo é um segundo é um segundo. O tempo avança com exuberante regularidade, com exatamente a mesma velocidade em todos os cantos do espaço. O tempo é soberano infinito. O tempo é absoluto”.

17.1.07

Eu quero manifestantes na sede do COB

A empresa alemã www.erento.com aluga carro, máquina fotográfica, imóveis e agora também manifestantes. Você pode escolher se quer um manifestante a la Che Guevara, ou de olhos azuis etc. Tudo pelo catálogo do site. Se o manifestante alugado for simpático à sua causa ele pode cobrar mais barato, mas o valor médio custa US$ 150/dia. Eu quero 1000 manifestantes na sede do COB amanhã!
Em entrevista para a BBC, a Erento diz: "Abrimos o serviço devido à crescente demanda", dizem os responsáveis pelo Erento, Chris Möller e Uwe Kampschulte. "Em geral, não sabemos o que os manifestantes contratados acabam fazendo, mas naturalmente rechaçamos qualquer forma de agressividade ou extremismo de direita".
Fico imaginando dois manifestantes voltando para casa depois de uma jornada de trabalho. Ideais? Lutar pela causa....Acho que tudo se resume a mais uma estratégia de marketing educacional, bem ao estilo da Red Bull, que ontem, em São Paulo, colocou três promotoras para distribuir latas do energético no local do acidente do metrô. "Não é promocional, é só para dar uma energia para o pessoal daqui", disse a Folha de S. Paulo a promotora Fernanda Souza, 22. Maitê Camargo, 20, disse que a intenção era "dar um gás para a galera que está trabalhando". Que janeiro pra lá de estranho

COB proíbe transmissão via web do Pan

O COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e o CO-Rio (Comitê Organizador dos
Jogos Pan-Americanos do Rio 2007) anunciaram que os veículos de
Internet não terão direito à produção ou transmissão ao vivo de
conteúdo próprio que inclua vídeo ou áudio captado em áreas oficiais
do evento, que será realizado entre 13 e 29 de julho no Rio de Janeiro. Mais um absurdo em um mês que já tivemos o YouTube fora do ar por causa da nossa Cinderelli tupiniquim.

Para Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Fenaj, em e-mail ao site Jornalistas da Web, "A decisão do COB significa um claro desrespeito ao direito de livre acesso à informação. Trata-se de um evento de natureza pública, financiado com recursos públicos, de grande interesse jornalístico e não deve haver restrições ou impedimentos ao acesso e livre divulgação das informações, sob quaisquer meios. Infelizmente, o esporte é cada vez mais produto comercial e acaba prevalecendo interesses, em detrimento da sociedade, exclusivamente econômicos de patrocinadores e fornecedores. A FENAJ, entidade sindical, tem limites para atuação ou representação legal em temas dessa natureza. É mais um assunto de competência de um Conselho Federal, como a OAB, como o CFJ, que lutamos para ser implementado e que sofre uma oposição desleal das empresas".

13.1.07

Estender para entender


A obra “Inda”, de 1996, de Elida Tessler, e a frase abaixo inspiraram os primeiros layouts do Remix Narrativo e sua concepção conceitual. É bom relembrar 2005.

“Colocamos as roupas rio varal para que sequem, como que renovadas. Elas passam de um estado a outro. É preciso esperar, ter paciência. Estender para entender. Há um tempo entre o pendurar e o recolher as roupas no varal. As toalhas ali estão em suspensão, como páginas em branco”

12.1.07

Nozes no final da tarde

Nunca me senti tão reflexiva como hoje. Estou escrevendo meu doutorado há oito horas e não me sinto cansada. Me vejo com 19 anos apaixonada pela Hilda Hilst, múltipla e barroca. O engraçado é que olhar para trás, ou melhor, me olhar melhor, me fez descobrir o rumo da tese. Decido fazer um intervalo criativo para quebrar as nozes que sobraram do Natal e preparar um patê de frango com esta iguaria que amo. A cada noz, percebo como ela se parece com o nosso cérebro e também que sua cor amarelada pode ser inspiradora.

Já quebrei umas 25, super terapia. Vou quebrando e comendo, o que talvez não resulte em patê de frango. Ouço 14 Bis e penso em Ouro Preto. Realmente nunca deixei de ser barroca. Que bom!

A velha mídia divide o mundo entre produtores e consumidores: nós somos autores ou leitores, emissoras ou telespectadores, animadores ou audiência; como se diz tecnicamente, essa é a comunicação um-todos. A nova mídia, pelo contrário, dá a todos a oportunidade de falar assim como de escutar. Muitos falam com muitos – e muitos respondem de volta. (apud Dizard Jr., 2000, p.23)

10.1.07

Em Matadeiro com Lee Anne


Nada como um banho de mar em Matadeiro, um filho surfista e Lee Anne na sua melhor fase em The Top Chef, reality show que amo na NBC. Se quiser uma dica minha: não assista ao BBB 2007, mude de canal. O melhor, desligue a TV e leia o blog da melhor chef da série Lee Anne

Segue abaixo sua receita de Thanksgiving

Apple, Pear and Cranberry Cobbler

INGREDIENTS:
1½ lbs. Apples, Granny Smith, peeled, cored and cut into ½” thick wedges
1½ lbs. Bosc Pears, peeled, cored, and cut into ½” thick slices
1 cup Fresh/Frozen Cranberries
2/3 cup Granulated Sugar
3 Tablespoons Dark Brown Sugar
2 Tablespoons Cornstarch
2 Tablespoons Lemon Juice
1 teaspoon Vanilla Extract
1 teaspoon Ground Cinnamon
1 teaspoon Freshly Grated Ginger
2 cups all-purpose Flour
2 teaspoons Baking Powder
½ cup Cold Butter, cut into small dice
1 cup Heavy Cream, plus more for brushing
Sanding Sugar, Pearl Sugar or Sugar in the Raw, for sprinkling Salt.
Salt

8.1.07

Os meus três Reis Magos

Estou em um beco de uma favela e preciso deixar os sapatos para subir a ladeira. Os chinelos pretos, que minha mãe me deu, ficam na entrada da passagem. Estou descalça na quebrada e sinto medo. Congelo a cena.

Vou beber água. Saio da ruela e encontro um estacionamento abandonado. Dois cachorros brancos com pintas pretas me cumprimentam. Ouço sinos tocando, mas não avisto nenhuma igreja. Um sofá rasgado aparece ao fundo de uma tenda de lona bege, suja. Sentados estão três pessoas: um preto velho, vestido de branco, um índio e uma velha mulata, cheia de colares. Carrego uma cesta de vidro transparente com água e um bebê recém-nascido submerso. Ao meu lado está Maurício, calado. O índio se aproxima e diz:

-- Que olhos lindos.

Neste instante eu olho para a cesta e me vejo bebê. Neuci, a senhora mulata, canta uma cantiga gregoriana bem bonita. Fico em paz. O negro velho entrega uma garrafa com um líquido verde para Maurício e diz para ele me levar para casa. Sentar na cabeceira da mesa -- que é o seu lugar -- e me deixar descansar, pois foi um longo caminho até aqui. Bem-vindo 2007! A vida, só deixar rolar.

7.1.07

O marxismo e a democracia na web


Fico meio lenta e reflexiva no início de um novo ano. Me vejo relendo tudo que achei interessante em 2006. E surgem perguntas? O que Lonelygirl tem de semelhança com Woody Allen? Quantos ativistas gays brasileiros se encaixam no perfil de Hudson, de Washington? Será que Megan Gill teria o mesmo namorado de antes do Facebook? Quantos voluntários brasileiros fazem o mesmo trabalho de Simon Pulsifer na Wikipedia? Ou ainda, onde está o Blake Ross -- criador do Firefox -- brasileiro? Na edição de 25 de dezembro, a revista Time trouxe todas estas histórias de personalidades da web, participantes da nova democracia digital. Minha visão marxista não vê tão tranquilamente esta igualdade social no ciberespaço, fica aquela sensação de chocolate diet para diabético. Com cara de normal, mas quando damos a primeira mordida, percebemos que é irreal. Mas também sou apaixonada pelo virtual. Acho que continuarei com dualidades em 2007. Excelente descobertas para todos!

5.1.07

Marionete nua


A marionete estava nua. Toda a turma havia entrado em cena e eu fiquei no estaleiro. O sol a pino me dizia que o dia ia ser cheio. Os vestidos no cabide, que a Lurdes carregava para o armário, davam o tom da cena. No olhar da minha avó percebi a breguice da família. Gente de bem, onde a matriarca mor, como sempre, ordenava e cuidava pessoalmente dos últimos preparativos para o grande show de bonecos animados. Tudo se movia como abelhas operárias a caminho do trabalho. E eu, como sempre, permanecia abestalhada diante de tamanha orgia.

Naquela manhã ensolarada percebi que havia uma pontinha de tristeza e angústia no olhar da minha bisavó. Ela estava imóvel olhando para a janela – perdida, vazia. Olhei para seu colo e a xícara de café estava tombada. O líquido escuro escorria lentamente pelas suas coxas e ela nem se movia. Corri para ajudá-la e ela me disse baixinho:

- Não se preocupe com uma velha de 89 anos, eu já morri para todos nesta casa e nada mais se mexe na minha vida.

Enxuguei rapidamente seu colo e afaguei sua cabeça, ia dizer que ela era a pessoa que eu mais amava na família. Mas a voz não saiu. Fiquei dura e fria como tinha proposto ser. Não queria sofrer ou me comover, apenas encenar o papel que tinham escrito para mim. “Ser inteligente na escola e burra na vida”. Era o slogan desta peça vivida dia-a-dia por uma atriz coadjuvante, aquela que fica na última fileira do palco e só fala quando precisam de alguém que faça a platéia rir.