25.12.06

Resoluções de Ano Novo


O calor me fez acordar cedo para uma segunda natalina, 9h15. Resolvi descer até a academia e correr por uma hora na esteira -- ajuda a pensar melhor, espanta o ócio, já que não aguentava mais assistir a programação da Globo. Minha mãe adora a Globo e isso me enlouquece. Chego na academia do prédio e dois homens conversam na esteira. Ligo a outra esteira e fico ao lado deles ounvindo tudo com meu MP3 desligado. É o hábito das conversas alheias. Um era moreno, uns 33 anos, casado. O outro, um pouco mais velho, com barriga, também casado. As esteiras marcavam velocidade sete, nós três bebíamos água quando o mais novo disse para o outro. Em 2007 espero ganhar meu primeiro milhão; sair deste apartamento, ir para um de 4 dormitórios.

Neste instante percebi que os ideais de cada um podem ser diversos. Ia responder para ele que em 2007 eu quero dar 120 beijos na boca, um para cada dia do ano; tomar mais milkshake e voltar a nadar, uma paixão antiga. Até olhei para ele, mas não tive coragem e continuei correndo. Fiz uma lista para 2007:
1) evitar os chatos
2) Não lutar pela casa própria
3) Sorrir mais
4) Trabalhar menos
5) Fazer musculação todos os dias
6) Namorar mais
7) Encarar a vida como um caminho que construímos caminhando
8) Manter a dieta
9) Evitar os invejosos, as pessoas pesadas
10) Se algum item falhar, comer um X-Salada que tudo fica azul novamente.

19.12.06

Calor, mosquitos e a TV Globo

Tem dias que desejamos realmente que o teletransporte exista. Ninguém merece a programação da Globo em dezembro, a novela, o calor e esses mosquitos. Sei que sou chata, reclamona, mas hoje eram 8h10 da manhã e já estava 32 graus na Pompéia. Fui passear com a minha cachorra e tive o desprazer de encontrar um vizinho japonês com dois Poodles brancos horríveis. Eu odeio Poodle. O dono não carregava um saquinho plástico para as fezes e os cachorros usavam sapatinho de pelúcia para não sujar as patas. A rua tudo bem. Fui lá e ofereci um saquinho. Ele fez cara de bobo, nem agradeceu. É isso. O brasileiro é mané, assiste a Globo, come peru na ceia de Natal -- mesmo fazendo 40 graus neste país tropical; vai ao shopping -- mesmo com duas horas de espera para estacionar no Iguatemi. Será que sou muito chata? Com certeza sou, mas é duro entrar na fôrma, gostar do que todos gostam. Amar do jeito que todos amam. Aceitar a família Doriana, mesmo quando não acreditamos na instituição do casamento. Comprar nozes e figo para a mesa do dia 24, quando preferimos um abacaxi com cubos de gelo e um carpaccio esperto.
A chuva trouxe um pouco de vento, seu telefonema me encheu de felicidade e resolvi resgatar a música Lenha, de Zeca Baleiro, que adoro, principalmente quando a letra diz:

se eu não sei dizer/o que quer dizer/ o que vou dizer/se eu digo pare/você não repare/no que possa parecer ...

Quem sabe sonho que estou no frio, cheia de queijos gostosos, um bom vinho, nada na cabeça e a leveza de quem vive cada dia como se fosse um bom filme. Quem sabe o ano que vem consigo fazer cuscuz no Natal, trocar o pudim de leite condensado pelo gelado de manga. Enfim, possibilidades.

2006 em retrospectiva digital

Como rege a natureza da informação, o ano que passa parece ter sido mais volumoso do que o seu anterior. Em meio a tal overdose de eventos, no entanto, alguns chegaram para ditar (ou ajudar a ditar) novos (e bons) rumos nas vias da informação online. A explosão do podcasting e dos portais de vídeos, o crescimento da telefonia via Internet, o abraço definitivo dos conglomerados e empresas de mídias tradicionais ao conteúdo cidadão. Vertentes que começam a ganhar status de pilares, mas que, antes disso, servem-nos como bússola para que possamos pensar e construir uma esfera virtual melhor.
Para celebrar o rico ano de 2006 no mundo virtual, Mario Cavalcanti, editor do JW, convidou seis profissionais veteranos da Web, ciberjornalistas e/ou especialistas no meio online, para apontar grandes acontecimentos ocorridos durante o ano e possíveis tendências para 2007. Acompanhe

18.12.06

Cenas impensáveis

Várias coisas me deixaram feliz e triste ao mesmo tempo no espaço entre ontem e hoje. O Inter conquistou o Mundial de Clubes e Yokohama e deixou Ronaldinho com cara de bobo. Havana Velha foi remodelada em apenas 13 anos e hoje abriga 16 hotéis, 100 lojas, pousadas e edifícios. Se eu demorar muito para visitar Cuba, imagine o que encontrarei em 2010, por exemplo?
Também sou obrigada a ouvir do Clodovil, em entrevista por telefone para a coluna da Monica Bergamo, na Folha de S. Paulo, que vai doar seu salário de R$ 24.500,00 de parlamentar para os pobres. É muito para uma pessoa só tentando ficar longe da baixaria dos parlamentares brasileiros. Melhor pensar no Inter apenas.

17.12.06

Tempo

De todos os cartões virtuais de Natal que recebi esta semana, o do amigo Luiz Márcio Ribeiro me tocou mais. Ele nos fala do tempo, o mais precioso bem do homem moderno. Gostei tanto que resolvi compartilhar com vocês. Ótimo 2007 para todos!


“A gente, quase sempre, quer, pelo menos, um tempinho a mais: pra beijar, pra passear, pra ficar na cama, pra conversar, ou só pra vadiar.
Mas a vida do jeito que anda, não nos deixa tempo para nada. Tempo de trabalhar, estudar, tempo de encarar o trânsito da cidade, fazer uma reunião depois da outra, ficar nas tantas filas para onde a gente quer ir...
Por isso, que em 2007 você ache mais tempo para exercer suas habilidades, aquilo para o que você serve e te deixa mais feliz. Que seja muito criativo para evitar a compulsão, o trabalho repetitivo, o tédio, os chatos, o apego às coisas, os possessivos...
Que em 2007 sejamos mais livres, leves e soltos....”

13.12.06

Histórias de uma gorda

A fila do caixa estava enlouquecedora, quase desisti de tudo, pois odeio supermercado. Lembrei que esqueci de pegar o sabão em pó. Como alguém esquece do sabão? Deixei uma senhora cuidando dos dois carrinhos e fui atrás do Omo. No caminho vejo duas gordas, uns 120 kg cada, segurando calcinhas minúsculas. Não resisti e parei discretamente ao lado da banca de ofertas que dizia:

Compre 2 e leve mais 2. Eram calcinhas de renda rosa claro, rosa choque e vermelha. Horríveis! Tentei disfarçar e comecei a observar a renda grosseira de uma delas. Daí veio o melhor: a fala de uma das moças. Acho que vou levar, hoje tenho um encontro com o Zé. Será que tem GG? Fiquei imaginando que a calcinha GG caberia em uma das pernas, mas jamais ultrapassaria o quadril. Resolvo ficar ali ouvindo mais um pouco da conversa, esquecendo completamente do Omo.

A conversa dos Pingüins


Dezembro me deixa no limite do stress. Ontem, não aguentava mais a conversa ao lado, o barulho dos meus dedos teclando, sem cessar, no computador e a falta de um chocolate básico. Resolvi congelar o fim de noite e ir a pé até a locadora mais próxima. Nada de aventura, suspense ou terror, trouxe para casa "A marcha dos Pingüins" e alguns Alpinos. No caminho já me sentia melhor. Nada como um filme bem lento para baixar a adrenalina e nos deixar na sintonia ideal. "Mais dez dias e milhares de passos, mais dez dias e milhares de passos e chegamos ao final da caminhada dos pingüins imperadores em busca do par perfeito para o romance de inverno".
A cada ano elas procuram, no meio da imensidão gelada, o macho perfeito para dançar. Brigam, se batem -- tudo enquanto os machos imóveis esperam a TPM feminina passar. Me diverti demais, ainda mais com a trilha perfeita de Emilé Simon. "Se a dança for harmoniosa, o casal sobreviverá ao gelado inverno da Antártica", nos diz o narrador. Casal é isso, uma dança perfeita, o encontro certo. Fiquei pensando que deveríamos ser como os pingüins: dançar, namorar e depois cada um seguir seu objetivo de vida sem olhar para trás. Eles caminham em direção ao mar, deixando até seus filhotes -- já crescidos -- independentes. A liberdade do oceano fala mais alto para todos.

A beleza singular do silêncio, após a fecundação do ovo é outro ponto forte do documentário. O amor foi feito e tudo está em silêncio, imóvel, proporcionando calor para o ovo. A fêmea faminta, deixa o pai cuidando do futuro pingüim enquanto ela vai caminhando até o mar se alimentar para poder voltar e nutrir o filhote.

3.12.06

Natal/Noel











época estranha

sensação de fome constante

um aperto enorme

no peito

no olhar

Felicidade comprada com flocos de algodão

época quente

lugares cheios

crianças com olhares de ansiedade

grande ansiedade!

emoção a flôr da pele

me sinto criança

apertada e aflita

quero uma árvore que vá até o céu

que papai noel exista

venha me visitar

trazendo tudo o que perdi

ao longo do caminho

26.11.06

UNCANNY VALLEY: GYDNEW GOFF

Finalistas do Uncanny Valley Expo

O jornalista Clive Thompson acaba de anunciar no nwn.blogs.com, os finalistas do Uncanny Valley Expo. Daniela Guerrero, Phinn Boffin e Gydnew Goff foram as minhas preferidas, pois incorporam todos os ensinamentos do roboticista japonês Masahiro Mori. Nos anos 70 ele desenvolveu algumas hipóteses sobre as respostas emocionais dos seres humanos em relação aos robôs. Para ele, a identificação e o realismo não podem passar do ponto, ou seja, os robôs não devem ser idênticos aos humanos, pois causariam efeito oposto: repugnância

21.11.06

O outro Miles


Fui dormir pensando em escrever um artigo sobre o feriado da Consciência Negra e a última pesquisa da Organização Internacional do Trabalho - OIT, sobre as desigualdades entre brancos e negros, divulgada semana passada. Como várias vezes ocorre comigo, acordei com este texto pronto. Bastou pegar o bloquinho, que vive ao lado da cama, e anotar.

Me vi na coxia do Tuca, após praticarmos nosso exercício de canto. Ao fundo tocava "Dr. Jekyll", de Miles Davis. Quando percebi o corpo negro de Rubem, se despindo ao meu lado, foi amor fulminante. Acho que o namoro começou ali, mesmo sem ele saber de nada. Ensaiamos até tarde naquele sábado e, como de costume, fomos para a casa do Edu tocar violão e comer macarrão. Como sermpre fazia, fui até a cozinha e comecei a preparar minhas clássicas caipirinhas. Pedi para o Rubem pegar o açucar e, ao trazê-lo, nos beijamos. Depois desse beijo não nos largamos mais. Consegui sentir o cheiro do limão cravo enquanto ouvia o samba de Noel, que tocou naquela cena. Comecei a cantar pensando por onde andarás você Rubem?

Lembrei-me também que amo Hip Hop, Paula Lima e feijoada. Esta iguaria afrobrasileira é meu prato preferido. Começo a desejá-la desde a compra dos ingredientes, a escolha do feijão preto, o fatiar da laranja. Do Rubem saltei para Miles, um negro lindo que conheci em 2002. Estava eu perdida em Nova Orleans, andando de bar em bar, pois aquela cidade respira jazz até no Burger King. A cada casa um novo som. Resolvi sentar no bar. Tinha andado uns 20 quarteirões. Quando o vi, cantando "Baby, Won´t You Make up Your Mind" me apaixonei imediatamente. No intervalo, Miles veio até o bar e me pagou um martini. Conversamos, ele conhecia o Rio de Janeiro, adorava Noel e já tinha experimentado a feijoada da Mangueira. Soube a história do seu nome, Miles, em homenagem ao outro Miles, que também amo de paixão.

Depois, ele voltou para o palco e tocou novamente "Baby, Won´t You Make up Your Mind". Saí andando feliz. Nunca mais o vi, mas cada vez que ouço Miles, me lembro de ti e daquela noite mágica.

20.11.06

Acessórios do meu ser

O Google me acompanha em tudo. Como ler dissertações, monografias sem
aquela pesquisa básica? Ainda mais em uma semana que participarei de
11 bancas. Como escrever sem acessá-lo para me lembrar do que já
esqueci? Ontem, mergulhada em vários trabalhos acadêmicos, era
impossível não usá-lo como bússula já que os assuntos iam de
fotografia moderna do clássico Farkas e seu dadaísmo tropical dos anos
40, passando pela teoria do caos, avatares e os ruídos da noofesra.
Tinha também a hipermídia que sai da web e invade o teatro -- na peça
"Jogando no quintal". Um teatro de improvisação que virou estudo de
caso.

Nesta hora percebi que as pastas mágicas do Firefox me ajudam demais.
Outra coisa que não vivo mais sem elas, apesar de manter o Explorer
quase como um sentimento nostálgico. Só ontem caiu a ficha: ler
ouvindo psyte, torna mais produtiva minhas correlações. Aline Vulpini,
de 25 anos, mescla o full-on com outras vertentes. Presente na cena do
interior de São Paulo, Aline já se apresentou em outros estados como
Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso. Vale a pena baixar seu set. Ela me
ajudou demais ontem, foi um acessório de produtividade. E quando todos
os acessórios (google, mp3, firefox, gmail etc) pareceriam
perfeitamente integrados a mim, acabou a força após uma chuva que
deixou São Paulo literalmente em baixo d´água. Daí foi o caos
literalmente. Não conseguia dormir, as velas -- espalhadas pela casa
-- me amolavam. Como viver sem tecnologia? Impossível. Ainda consegui
chegar até a geladeira, com a ajuda de uma lanterna, e peguei uma
cerveja ainda gelada. Ouvir a festa dos São Paulinos foi a única opção
de um domingo sem tecnologia.

19.11.06

Meio Raimunda


Ontem consegui assistir "Volver". Confesso que a Raimunda me tocou muito. A forma como a personagem -- totalmente Shiva -- renasce das cinzas, dá um jeito no destino, consegue trabalho, ainda se arruma e canta. A cena de Penélope cantando Volver de Gardel, faz a platéia se emocionar. Hoje, acordei pensando que escrevo para não enlouquecer, escrevo para espantar os fantasmas do passado, as dores e sofrimentos que parecem karma, acho que são. Mas ao mesmo tempo consigo congelar a dor, sair, fazer as unhas "a la francesinha", rir e levantar a poeira. Sim, venta muito no povoado de Raimunda. Acredito que o vento, da mesma forma que traz dor, também leva. No meio do passado que insiste em voltar, lembrei da força de Raimunda e resolvi, como ela, cozinhar para espantar o passado.
Tomates cortados em cubos
cebolas fatiadas bem finas
um fio de azeite
pedaços de atum
um rápido cozimento, algumas folhas de manjericão, da minha horta em vasos, e pronto: já tenho um molho delicioso para a pasta que está quase pronta. Uma taça de vinho?

17.11.06

Editores, mapa astral e temas semanais

O coletivo Remix Narrativo acaba de ganhar sete editores, cada um responsável por um dia da semana. Eu, como pesquisadora, sou a oitava colaboradora. Sua Second life (já que o site nasceu em junho), ocorreu às 22h45 minutos do dia 08 de novembro. O signo solar é escorpião, o ascendente é câncer (igual ao meu) e a lua estava em câncer no dia. Todos signos de água. E água é pura emoção. Nada mal, diz Margô Firme, editora do site e astróloga de plantão. Desejo que a emoção prevaleça sempre, pois cada narrativa traz um pouco da alma e da sinestesia do nosso dia-a-dia.

Com a Lua em Câncer, o Remix estabelece laços e vínculos com as outras pessoas. Favorece, portanto, toda área de assistência dentro do contexto profissional, onde a pessoa possa exercer a função de cuidar e ajudar o próximo. Conservar e preservar laços afetivos, manter as tradições e o provimento delas.

16.11.06

1º Festival de Curtas-Metragens de Direitos Humanos


Numa festa com espírito de sarau, embalado de música, discussões e imagens desconexas para os menos sensíveis, o Sesc Pompéia sediará, no próximo dia 22, o lançamento do 1ºFestival de Curtas-Metragens de Direitos Humanos. Batizado de "Entre todos", o festival receberá curtas de todos os formatos cuja duração não ultrapasse 15 min (de celular a 35 mm), e, serão exibidos tanto em pelicula quanto em vídeo.
O festival procura ampliar a discussão em torno da contribuição artística, filmíca e audiovisual nas questões ligadas ao individuo e seu meio. Os realizadores deverão inserir préviamente seus curtas em um dos 6 blocos temáticos estabelecidos: o lugar do corpo, origem e deslocamento, mundo interior, cotidiano, tecnocultura, núcleos e nichos. Maiores informações no site do Sesc SP.

15.11.06

Uncle Dave


Ontem foi seu aniversário querido David. Comecei logo cedo, no café, saboreando geléia de amora, a lembrar-me de ti. De como era maravilhoso nossos encontros na sua casa na vila. Logo ao chegar, via sua perua Variant branca, com finas faixas laterais vermelhas e pretas, estacionada ao lado de um esqueleto de moto. Você surgia de T-shirt branca, calça caqui e tênis reebook preto. Às vezes Rebeca já estava no Mac fazendo pesquisas ou descobrindo uma nova novidade que você iria nos apresentar antes do espumante de pêssego. Sim, ainda vou ao Empório Santa Maria, compro seu "refresco" favorito para tarde, deixo na geladeira e depois bebo-o na taça que bebíamos juntos. Fiquei com sua taça querido, aquela que um dia levamos do Maksoud Plaza, depois de um chá da tarde que começou pontualmente às 17h e terminou depois das 22h00, regado a Martinis. Sim, os encontros das Jennifers era o máximo! Adriana, às vezes, preparava as torradas para o caviar em sua cozinha com coisas de um jovem rebelde.
Tenho o maior orgulho de ter sido uma delas, a mais caipira, com alma de criança de Everglades você dizia. Na minha saudade ontem, achei algumas revistas "Ponte Aérea" e principalmente sua reportagem "Cuidado! Você entrou no Primitivo Everglades". Lembrei-me do dia em que editamos juntos esta reportagem na revista.

Você me dizia que deveríamos ir juntos para Everglades, que eu, do mato, iria me encontrar no mágico silêncio de 607 mil hectares de terra e, principalmente, água, localizado no sul da Flórida. Nunca fomos. Você dizia que meus dinos (filhos) iriam me enlouquecer, mas que eles te faziam se lembrar dos seus meninos.
Semana passada encontrei o Jean Boechat, outro grande amigo seu. Ficamos conversando sobre ti, sobre sua incansável capacidade de descobrir o novo. Dos nossos encontros, do seu último aniversário onde organizei uma feijoada com muita caipirinha, torresmos e mulheres. É você nos entendia como ninguém. Sabia se eu estava triste pelo tipo de alô que eu falava no telefone. Ai que saudade, amigo David. Jean e eu combinamos uma bebedeira para comemorar seu aniversário, estou só esperando ele se recuperar de uma cirurgia no rim.

ps: falando em mulheres, postei a foto mais linda de uma mãe. A sua Leila Diniz, encontrada entre outros 23.300 links no google. Também achei uma cartinha de Jean
Clarabóia
Um beijo querido amigo.


13.11.06

Corpo, imagem e cibercultura

Reunir por dois dias jornalistas, amantes da noosfera, pesquisadores em hipermídia, net artistas e filósofos, todos em torno da discussão do corpo, (inter)mediado na cultura, na arte, na comunicação, no design, nas ciências humanas é a proposta do seminário Corpo & Mediação: estudos contemporâneos, que ocorre nos dias 28 e 29 em São Paulo. Acredito, como pesquisadora e participante da imersão, que desses encontros sempre tiramos um panorama contundente desta nossa sociedade mergulhada no imagético e que, aos poucos, desloca-se -- sem volta -- do mundo da escrita.

O seminário é organizado e coordenado pelo professor doutor Wilton Garcia, que lança o livro "Corpo & Subjetividade", (Factash Editora) resultado do evento do ano passado. As inscrições estão abertas e podem ser feitas pelo site


Senac

9.11.06

Filhos Calvin II

Os episódios relatados a seguir precisam ser documentados, antes que a memória os perca. Ao sair para dar aula, deixei uma missão clara para Rafael: tomar banho, escovar os dentes e trocar de roupa (vale uma explicação, já que filho pré-adolescente do sexo masculino em geral não gosta de banho, água ou rotinas de higiene pessoal.

Às 22h34 recebo o seguinte sms: "Tem uma aranha gigante morando no meu banheiro, ela fica bem no box, não consigo tomar banho". Ele descobriu as maravilhas do sms. Resolvi responder por sms também com a seguinte frase:"Quero achar esta aranha mutante, pois vai ter pau hoje". Descubro que ele estava assistindo Animal Planet, o programa de todos os dias, todas as horas e especificamente sobre aranhas. Quando abro a porta, percebo seu olhar Calvin. Não falo nada (morrendo de vontade de rir), vou até o banheiro e encontro uma aranha de plástico gigante, comprada em Itu, com muito shampoo sobre as patas para disfarçar....

Devia ter brigado muito, mas caí na gargalhada e ri por 10 minutos seguidos. Isso é ter um filho Calvin.

Segundo episódio:
Acordo atrasada, percebo que estou com sapatos trocados, reclamo que ninguém colocou a mesa para o café, não vai dar tempo de chegar na escola. Vou trocar os sapatos, quando volto percebo que Rafael colocou uma banana prata para cada um na mesa do café. Digo furiosa: "como assim uma banana?" Ele responde:

-- Mantemos a forma e ainda podemos ir comendo a banana no carro, sem atrasos. Mais Calvin impossível. Entramos os três no elevador, eu torcendo para não encontrar ninguém. Paramos no segundo andar, entra um japonês com cara de Samurai bravo e olha demoradamente para os três segurando cada um a sua banana.

4.11.06

Maçã durante a madrugada


Você já desejou comer um javali com molho agridoce no meio da madrugada? E uma bandeja de quindim da Alice quindim? A causa deve ser o excesso de trabalho, a frieza do computador a minha frente, sei lá. Bom, apenas fui até a geladeira e peguei duas maçãs Fugi, pois só elas são doces e com caldinho. Foi um deleite para mim e Mimy - fiel amiga das madrugadas (uma para cada). Para embalar o carinhoso ato, coloquei secador, maçã e lente e vamos em diante, que a pilha de trabalho só cresce. Bons sonhos!

pode ser que sim
pode ser que não
que tudo aconteça
como aconteceu com um amigo de um amigo meu

ele só tinha coragem de comer maçã
e só comia a metade para emagrecer

ele não podia molhar porque
seu cabelo não era a prova d`água
toda vez que ele molhava enrolava
sua lente fazia diferente
não podia abrir um olho embaixo d"água

e dessa forma ele vivia alegremente
secador, maçã e lente
secador maçã e lente

ê vida atoa êêêêêêêê ah!

secador, maçã e lente
(érika machado/juliana mafra)

3.11.06

Cinema a la carte

O Ponto de Cultura da Vila Buarque, na região central de São Paulo, criou uma oficina de filmes de bolso. De olho no interesse dos jovens por seus telefones móveis, e outras máquinas registradoras onipresentes, quer fomentar a produção de pequenos vídeos, que podem transitar por e-mails e celulares, e disseminar idéias. O curso dura cerca de quatro semanas, mas não há periodicidade certa para acontecer. O foco é o modo de capturar as imagens. Não apenas filmando, mas também utilizando aquelas que já existem. Pode-se usar, por exemplo, obras com licenças de uso mais flexíveis que o copyright, como as Creative Commons (CC). Ou seja, fazer arte a partir de arte, sampleando, como os rappers. Nada mais remixado! Para se inscrever, entre em contato com a rede

2.11.06

Jump Madonna


"Acho que sou um homem gay em um corpo de mulher", declarou Madonna em sua última entrevista, que será exibida dia 29, às 22 horas, no Multishow. Sei que tem gente que não gosta dela, mas eu sou fã. Que camaleoa, uma mulher que consegue avançar, se reinventar. Se pensarmos em uma Xuxa, por exemplo, que permanece prisioneira da sua própria nave e da sua personagem infantil, Madonna, ao contrário, transita por estilos como quem toma um banho e sai para rua sem olhar para trás. Ela fracassa, cai, separa, retoma, tem filho, adota outro. Só uma mulher muito macho em corpo tesudo consegue realmente o que ela consegue. Deve ser isso.

Bom, enquanto delicio algumas macadâmias, uma de minhas paixões, ouço Jump e lembro de uma balada, bem jump que fui. Lá vai a letra!

There’s only so much you can learn in one place
The more that I wait, then more time that I waste

I haven’t got much time to waste, it’s time to make my way
I’m not afraid what I’ll face, but I’m afraid to stay
I’m going down my own road and I can make it alone
I'll work and I'll fight till I find a place of my own

Are you ready to jump?
Get ready to jump
Don’t ever look back, oh baby,
Yes, I’m ready to jump
Just take my hands
Get ready to jump

We learned our lesson from the start, my sisters and me
The only thing you can depend on is your family
And life’s gonna drop you down like the limbs of a tree
It sways and it swings and it bends until it makes you see

Are you ready to jump?
Get ready to jump
Don’t ever look back, oh baby
Yes, I’m ready to jump
Just take my hands
Get ready to, are you ready?

(Spoken:)
There’s only so much you can learn in one place
The more that you wait, the more time that you waste

I'll work and I'll fight till I find a place of my own
It sways and it swings and it bends until you make it your own

I can make alone (repeat 7x)

Are you ready to jump?
Get ready to jump
Don’t ever look back, oh baby
Yes, I’m ready to jump
Just take my hands
Get ready to jump

Are you ready to jump?
Get ready to jump
Don’t ever look back, oh baby
Yes, I’m ready to jump
Just take my hands
Get ready to, are you ready?

1.11.06

Olíbano

Ao perder um CD, que tanto precisava, chorei. Ao chorar, percebi que todos em casa choraram também. Choramos juntos, inclusive a cachorra e, em mutirão, achamos a peça desaparecida em um lugar sinistro. Demos risada, dançamos na sala, acendemos Olíbano -- um incenso de sorte e afeto. Brincamos e resolvemos sair para comemorar comendo x-salada ao sabor de um milk-shake de chocolate. Pensei no eterno regime, mas confesso que um x-salada consegue salvar minha vida. A cada mordida os problemas desaparecem, me renovo e me sinto feliz novamente.
Como sou inconstante e diariamente faço centenas de resoluções de ano novo e as quebro diariamente também, acordei com mau humor, pois detesto fazer supermercado. Na verdade, odeio. Deixo acabar tudo e quando, a geladeira vazia me diz olá, crio coragem e vou. Reclamando em cada corredor, achei um pé de manjericão, lindo, grande e num vaso de barro marrom. Resolvi cheirá-lo e tudo passou por completo. Me senti feliz novamente. Em frente ao vaso, na geladeira de congelados, vi um filé de frango
cordon bleu...Aquele com recheio de queijo com presunto. Lembrei de ti na hora e dei risada. Resolvi comprar o vaso, o frango e, na saída, esqueci os dois carrinhos de chatices no caixa.
Como a torneira do céu está aberta em Sampa hoje, me molhei inteira ao atravessar o estacionamento em busca dos carrinhos. Fiquei mal humorada novamente comigo, por ser tão atrapalhada, mas daí abracei o manjericão e senti o cheiro do tempero e da chuva em minha pele. Acho que esta foi a fórmula remixada de ser feliz hoje. Um pouco a cada dia, em pílulas.

30.10.06

Charada













Fase 1
banana
água
beijos
zines
feijoada

Fase 2
desejo
água
sexo
natação

Fase 3
sol de verão
Sex Pistols
luar
parede

Fase 4
autodidatismo
real
virtual
branco
negro
graffiti

Fase 5
sinestesia
banana
silêncio
Cheiro
beijo
Sex Pistols again

Fase 6
mel
sexo
cosmopolismo
duas bananas
Seguindo a filosofia punk faça você mesmo, misture as seis fases e selecione uma aleatoriamente. Saboreie uma banana prata enquanto escolhe o melhor caminho para sua charada.

28.10.06

desejos possíveis

Vontade de tomar sol até ficar mulata. Curtir o merecido sábado, depois de uma semana punk. "Memórias de um sobrevivente" está quase no final. Que vida dolorida, que relato em vai e vem -- abismos e redenções nos oferece Luiz Alberto Mendes. Sábio e sensível escritor, alguém que, logo na epígrafe, já nos diz: "Não importa o que o mundo fez de você, importa o que você faz com o que o mundo fez de você" (Jean-Paul Sartre).
Acordei feliz com os latidos insistentes de Mimy, aos pés da cama. É sábado e ela quer sair para passear. Eu também! Ontem a cidade estava linda, com uma luz amarelada no céu; lotada de cinéfilos de plantão -- (sim) a mostra internacional de cinema faz isso com São Paulo. Não consegui assistir "Shortbus", mas o substituí por uma alface macia, queijo de cabra aquecido, damascos, mostarda, nozes e algumas cervejas. Foi bom conversar até de madrugada. Discutir a eleição de amanhã, o debate que (ufa!) não vimos, a finitude dos casamentos, a fórmula mágica da felicidade. Às vezes, nos sentimos tão leves, tão felizes que até perguntamos como isso é possível? Como um damasco aquecido com um toque leve de mel pode me deixar tão feliz?
Volto para casa pelo Necroburguer, quase paro para o já clássico x-salada, mas estou light com a vida.
Será que conseguirei assistir "Quatro janelas", do jovem diretor Christian Müller? Sonhei com Paraty, uma escuna branca. Eu e você, abraçados, olhávamos o mar. Depois mergulhamos na água salgada e ficamos boiando em silêncio. Adoro silêncio. Acordei sorrindo, sentindo a pele salgada, ainda molhada do delicioso sonho. Fiz carinho em Mimy e fomos passear cantando Polichinelo...

Você não conhece o Cadão Volpato? Nem a letra de Polichinelo? Está perdendo um deleite e tanto.


você vem de uma constelação
você vem do café da esquina
você vem do cabelereiro
você vem de um arquipélago mínimo
você vem de um satélite mudo
você vem de um móbile imóvel
você vem de cabelo molhado
você vem de cara lavada
você segue as placas de trânsito ....

27.10.06

Babel diária


Pai que não entende a língua do filho, marido, a fala da mulher, policiais e civis e ainda vários lugares e seus conflitos sociais. Assim é a trama de Babel, filme do diretor mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu (de "21 Gramas"). Cotado como um dos favoritos para a cobiçada Palma de Ouro em Cannes, Babel traz o casal Brad Pitt e Cate Blanchett de férias no Marrocos quando começa uma tragédia. Imperdível!

quinta-feira

de repente ....
bate a vontade de olhar o nada
sentir o cheiro do mato
caminhar
não escolher dia
nem hora!
posso eu querer coisa melhor
do que caminhar
num entardecer de uma esquecida quinta-feira?

sentir a terra nos pés
o grilar nas árvores

enfim
ser um ser a mais em uma esquecida
quinta-feira

22.10.06

É caminhando que se descobre o caminho


Este trecho de uma das letras dos Titãs não saiu da minha cabeça enquanto dirigia pelas estradas mineiras. "É caminhando que se descobre o caminho...". Aquelas montanhas todas me reverenciando e lá ia eu cantando enquanto as placas diziam Àguas da Prata, Caxupé, São João da Boa Vista, Poços de Caldas, Jacutinga (não necessariamente nesta ordem). Uma parada, um doce de leite, uma prosa com um mineirinho local -- gente de coração enorme, sem pressa de ser feliz. Não sei em que momento ou ordem encontrei esta árvore (foto). Resolvi abraça-la, sentar em baixo da sua sombra e deixar a vida caminhar. Outra pausa para uma água da bica, uma foto, uma ida ao banheiro. Engraçado eu reparar em cada coisa que realizava, com muito cuidado, tentando recuperar os atos, as falas e cenas. São escolhas que fazemos na vida. Talvez, tenha dado hoje o primeiro passo, talvez a árvore, com seu carinhoso abraço, me fez feliz. Percebi que nada sei, mas que adoro caminhar em busca do novo.

19.10.06

A Mostra e eu


Estação de trem em Genebra. Três tipos, três investigações, uma história. Quando uma pessoa se convida para sentar ao lado de alguém num trem, uma nova realidade pode começar. Três pessoas encontram-se, três histórias de vida se cruzam na plataforma da estação de trem. E uma questão precisa ser respondida: como as pessoas lidam com a realidade no seu cotidiano? "A Vida Real Está em Outro Lugar" será a minha primeira parada. Decidi que "Belle toujours" será a segunda. Um tempo para um expresso, um cachorro-quente, que ninguém é de ferro. Um mate com limão, talvez um beijo.
Parlov me reserva um cotidiano mágico da cidade de São Paulo. Eu espero por "Diário", com o mesmo desejo que espero me reencontrar.
Volver não posso perder, mas posso esperar o circuito tradicional. "Os EUA contra John Lennon" e "Wal Mart - o alto custo do preço baixo" me fará ficar sem vontade dos EUA é isso é bom. Pode ser uma boa opção. "Eu quero ser piloto" também me deixa com vontade de ir. Já fomos crianças com vontade de estar em outro lugar. Com vontade de viver outra realidade. Diego Quemada Diez captou bem este conflito pré-adolescente em busca de redenção.
Como alguém pode ter tantos flashbacks lendo resenhas de filmes? Esta sou eu. Esqueci do balde duplo de pipoca para acompanhar a viagem.

18.10.06

Você no Super Bowl


Imagine você na área vip do Super Bowl. Produza um filme declarando seu amor por Doritos. "Maybe it's a story about the first time you tried Doritos or what life is like for the spices on the surface of the chip". O filme vencedor será exibido durante o Super Bowl, em fevereiro, nos EUA. Consumidor cineasta, consumior publicitário, consumidor fã. Tudo ao mesmo tempo! O público, ativo, também vai ajudar na seleçao, votando em um dos 5 finalistas a partir de janeiro. Yahoo Videos é o parceiro da Doritos. http://promotions.yahoo.com/doritos/

14.10.06

Godard sempre pode ser inspirador

Eu e o Abujanra fomos ao cinema


Acho que estou me tornando budista, uma revolução para uma comunista convicta. Comecei a perceber que a felicidade realmente está nas pequenas coisas. Você já ouviu esta frase antes? Acha que eu resolvi falar de auto-ajuda? Não me importo. Mas te darei algumas dicas:
Saber dar valor ao sabor doce de um morango, fazendo cócegas no céu da boca.....isso é felicidade.
Saber se deliciar com o cheiro do sabonete Karma, da Lush, num banho demorado e quente ....isso é felicidade.
Congelar a manhã para uma "guerra" de cócegas com seu filho na cama... isso é felicidade.
Se dar ao luxo de matar a sexta-feira, andar a pé pela Paulista e ir assistir, no meio da tarde, "Amantes constantes" ... isso é felicidade.
Eu e o Abujanra deixamos os afazeres para trás e ficamos imóveis por três horas assistindo um filme em preto e branco, que fala sobre jovens anarquistas na bela Paris de maio de 1968. Eles discutiam a existência embalados a muito ópio. Você acha que somos chatos e gostamos dos filmes de Godard? Acertou.
Você já comprou e leu a bela revista Piauí? Não.
Já sei. Você gastou seis horas da sua vida para pegar chuva no litoral norte e neste exato momento espera uma mesa para comer peixe frito com sua sogra?
Você não é budista, vota no Alckmin e nunca ouviu falar no ator Louis Garrel (www.louis-garrel.com), vencedor do César 2006, como melhor ator revelação. "Amantes constantes" levou o prêmio Leão de Prata, como melhor diretor, e do Golden Osella, como melhor fotografia, no Festival de Veneza 2005.

Você não gostaria da cena em que a personagem de Clotilde Hesme pergunta para o amante se ele se importa dela transar com o amigo no andar de baixo. "Ele me dá tesão". Eu sei, você só transa de sábado e agora está vestido -- para almoçar com a sogra -- de bermuda caqui, camiseta polo listada, cinto preto, meias brancas de jogar têmis e um nike super limpinho.

Não perca seu tempo indo assistir "As torres gêmeas" no cinema. Olhe para o lado de vez em quando. Procure um beijo inesperado, roubado. Isso mesmo! Você já se apaixonou por um estranho? Não.

Não seja tão duro com você mesmo. Se dê uma chance de ser feliz.

13.10.06

leitores protagonistas


No início de junho, mais especificamente dia 03, a seção Digital do www.ep3.es convidou os leitores para serem protagonistas da foto de abertura. 70 pessoas, simpatizantes do copyleft se reuniram em roda, dançaram num batuque único e criaram um espiral humano. A foto, totalmente disponível para você leitor, pode ser acessada em http://blogs.ep3.es/ep3/digital/index.html

bom final de semana.

12.10.06

Verde

Branco


Na multidão
eu sou aquele
singelo
rabisco de formas
redondas
rudimentar a olho nu

mas que traz impregnado
na pele
cores e contrastes
como eu sou?

já disse
sou aquela aquarela
de tons tão belos
que só mostra o branco
dessa mistura singela
(polly)

Hips don´t lie

Como alguém pode acortar cantando ....Shakira

And I'm on tonight
You know my hips don't lie
And I'm starting to feel it's right
All the attraction, the tension
Don't you see baby, this is perfection

Hey Girl, I can see your body moving
And it's driving me crazy
And I didn't have the slightest idea
Until I saw you dancing

Tomar café dançando com a cachorra e ainda relembrar Renato Russo enquanto prepara um risoto de ervilhas frescas e queijo gorgonzola? Você acha tudo isso loucura? Não me importo.....Hey Boy, I can see your body moving....
Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?

Until dancing, and dancing forever

8.10.06

Amor

mal necessário
carência do outro
medo da solidão
busca frenética da paixão
Durável?

quase nunca
utópico sempre!
sonho adolescente
que bate na gente
sem escolher a estação

um frio gostoso
bem conquistável
totalmente em baixa
daqueles que buscam o encaixe
a palavra certa
o despertar da manhã

sem nuvens
ou sombras
claro como a luz matinal
limpo
branco como a toalha
de linho de mesa de natal
festivo!
uma verdadeira roda de samba
com cerveja
mãos dadas
aladas
de seres apaixonados

6.10.06

chocolate


Aplacar a solidão com chá verde
Diminuir o vazio olhando a rua
imaginar ser outra
estar em outro lugar
sair andando sem saber onde chegar

se apaixonar em questão de segundos
Da espera silenciosa ao beijo

não existe espaço
tudo ocorre como num portal

A passagem secreta
o vapor do feijão no azulejo
o olhar sem brilho na face de minha mãe

flashbacks diversos

me vejo com dez anos sentada no telhado
no telhado de casa

as telhas macias, úmidas, faziam carinho

me olho no espelho
quero peitos grandes
já tenho 15

coloco duas meias no sutião
me sinto Sofia
volto ao chá verde

Me propus ser livre
me propus ser eu

deixar a vida rolar
resolver pequenas coisas
as grandes não me pertencem

sinto vontade de batom vermelho
alongamento
pipoca com provolone
mar

gosto do entardecer
da cor alaranjada do céu

dançar, dançar e dançar

Gosto da chegada da escola
da briga dos meus meninos
Gosto da avenida Paulista

Sinto falta do seu sorriso
do expresso 2222

bebo mais chá
imaginando ser mousse
sim adoro chocolate

decido sair na chuva
me molhar sem pressa
na busca por chocolate, sorriso e beijo

4.10.06

Cidade


no meio da imensidão
me sinto um grampo
fininho
gelado
com mil e uma utilidades
comum a todos
vulgar?
talvez



Uma série à mais
no meio de tantas outras
apertado

junto a outros cem
na caixinha
o que eu sou?

nada mais que um grampo
com frio gelado
sozinho

apesar do aperto da caixinha

3.10.06

Códigos combinados

O professor Antonio Sofi, da Universidade de Firenze (Itália), postou em seu blog WebGol (www.webgol.it) um texto intitulado "Fenomenologia do Toque". Trata-se do uso do telefone celular por adolescentes para envio de toques, que não são atendidos por quem os recebe, mas que efetivamente funcionam como mensagens, a partir de uma codificação pré-estabelecida entre eles. Alguns temas que o professor sugere para discussão a partir dessas observações:
1. O grande poder de difusão da Web, em contraste com o suporte impresso;
2. A discussão/interação não é função direta da difusão;
3. Os públicos são diversos porém complementares;
4. Comentários de leitores e seus efeitos de aprofundamento;
5. Os efeitos de reciclagem sobre o texto original.

Só para pensarmos o tamanho das possibilidades: o Brasil tem 6 milhões de pessoas que acessam a internet exclusivamente de locais públicos pagos ou gratuitos, de acordo com a pesquisa "Internet Pública", divulgada nesta segunda-feira (02/10) pelo Ibope/NetRatings. A pesquisa ouviu 16 mil pessoas em nove regiões metropolitanas brasileiras - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Fortaleza, Salvador, Distrito Federal e Recife.

De acordo com a pesquisa, 4,4 milhões de pessoas acessam a internet de
locais públicos pagos, como cibercafés e Lan Houses, pelo menos duas
vezes por semana. Gastam, em média, entre 10 e 15 reais por mês. É a cibercultura mostrando sua cara.

26.9.06

Ser criança é bom


A artista, cantora, compositora e criança Érica Machado, lança hoje (21h00) no Sesc Pompéia, em São Paulo, o CD "No cimento". Com uma voz doce, figurino que lembra uma loja de balas da nossa infância e diversas mixagens engraçadas, Érika (www.erikamachado.com.br) já despertou o interesse da mídia e dos ouvintes.

enquanto meu cabelo cresce
você envelhece
enquanto tudo acontece
um problema some
outro aparece
agora já foi
depois nunca vi
um tempo no tempo pra eu existir
enquanto meu cabelo cresce
você envelhece
enquanto tudo acontece
tanto a gente aprende
Quanto a gente esquece
agora já foi
depois nunca vi
um tempo no tempo pra eu existir
a mamãe já falou que gracinha que eu sou
e a mamãe só fala verdade.

enquanto tudo acontece
(érika machado)

24.9.06

Meryl Streep interpreta Anna Wintour


"O Diabo Veste Prada" mostra os bastidores de uma importante revista de moda. Estrelado por Meryl Streep e Anne Hathaway, que já trabalhou em "Brokeback Mountain" e "Diário da Princesa 2", o filme é uma adaptação do best-seller homônimo, escrito por Lauren Weisberger. O comentário desta semana nos blogs do mundo fashion da moda é que Lauren se inspirou em Anna Wintour, editora-chefe da revista "Vogue" para construir o personagem de Meryl Streep.

A modelo brasileira Gisele Bündchen faz uma pequena participação em "O Diabo Veste Prada" como uma empresária do mundo da moda. De cabelos presos, Ms. Bündchen não causa o mesmo impacto. Sem falar nas falas sem emoção da atriz de Taxi.

21.9.06

Tom Cruise, hamburguer e cappucino


Há 10 dias da Eleição resolvi passar algumas horas sonhando com meu ídolo Tom Cruise. Isso mesmo, ele está simplesmente demais nas 22 páginas da Vanity Fair deste mês. Seja bem vinda Suri, a terceira filha do astro de Hollywood. Para acompanhar, um suculento hamburguer de picanha apimentado do América e um cappucino extra large. Sou superficial? É a única alternativa para não enlouquecer. E além do mais, jornalistas são pessoas muito chatas (eu me incluo); discutem política no bar com os amigos, tomam café discutindo o jornal, vão em uma exposição e já chegam analisando os furos que a assessoria do evento cometeu. Viajam para a praia e ficam em baixo de um coqueiro lendo. Credo! Um pouco de supérfluo faz muito bem para qualquer um.

Será que teremos segundo turno? Eu ia anular meu voto, mas já estou adotando outra medida depois da "malsucedida operação para comprar um dossiê com denúncias contra políticos tucanos, a secretaria de avaliação de mídia e risco do PT será desativada. O novo coordenador nacional da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, Marco Aurélio Garcia, informou hoje que não pretende manter em atividade a área de inteligência do PT. Esse setor eu nem conhecia e pelo desempenho não me parece muito inteligente", ironizou Garcia.
Ironizo eu: secretaria de avaliação de mídia e risco do PT é um pouco demais para um partido dos trabalhadores. E eu que sou superficial?

19.9.06

ECA promove debate sobre TV digital

Começa dia 21, em São Paulo, o Fórum de debates sobre TV Digital, promovido pela ECA/USP. O evento é gratuito e acontece no Teatro Laboratório da ECA, a partir das 8h30. O evento contará com a participação, no primeiro dia, do ministro da Cultura, Gilberto Gil (a confirmar), Mayana Zatz, da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, Luís Augusto Milanesi, diretor da ECA e Ana Eliza Faria e Silva, da Rede Globo. Quatro temas orientam os debates:
1. Espectro televisivo brasileiro: ocupação e modelo de negócio; 2. Programação televisiva, interfaces técnicas e as pesquisas do SBTVD; 3. Comunicação mediatizada e sua regulação; 4. Recepção e interatividade: cultura e tecnologia. Participe do debate:
www.emm.usp.br/tvd-ecausp.asx

www.emm.usp.br/tvd-ecausp.ram

UBI disponibiliza gratuitamente na web sua coleção de livros


O jornalista português Antonio Fidalgo, responsável pela Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação (BOCC), acaba de colocar na Web a coleção de livros LabCom, projeto editorial que disponibiliza, em PDF, todos os livros publicados pelo Laboratório de Comunicação e Conteúdos Online (LabCom) da Universidade de Beira Interior (UBI), em Covilhã, Portugal.
Os livros que constam do catálogo podem ser baixados gratuitamente no endereço http://www.labcom.ubi.pt/livroslabcom/
O livro "Sociedade e Comunicação: Estudos Sobre Jornalismo e Identidades", publicado por João Carlos Correia, nos oferece uma interessante discussão sobre a linha da mediação jornalística na representação e construção de identidades. O volume de 210 páginas percorre um leque de questões candentes: fragmentação cultural, espectacularização da informação, participação cívica, entre outras inquietações atuais da profissão de Jornalista.

14.9.06

Cenas do Prêmio Jabuti


A 48 premiação do Jabuti lotou a Sala São Paulo, bem no miolo da Estação da Luz, em São Paulo. Ontem, a nostalgia embalava tudo: do saguão, passando pelos premiados e curadores. Me senti no Rio de Janeiro de Carmen Miranda. E por falar nela, Ruy Castro foi o grande vencedor do ano na categoria não ficção, com sua detalhada biografia de Carmen Miranda. Segundo ele mesmo contou para a platéia, seu mérito foi ser o primeiro a chegar e entrevistar seus amigos, todos com mais de 80 anos.Fiquei pensando por que ninguém fez este trajeto antes? Carmen estava meio esquecida nesta nossa sociedade tão sem memória?

Robert Altman forever

















10.9.06

Cinco anos depois


Era minha primeira folga em três meses. Acordei às 6h30 e me arrumei para estar na USP antes das 8h00, pois tinha uma aula na pós-graduação. Discutíamos sobre o livro Idoru, de William Gibson, e eu iria apresentar um seminário sobre o cenário onde a história acontece: línguas diferentes, comidas, coisas de todos os países em todos os lugares. O mundo globalizado, envolto em propostas multifacetadas, desenhadas por Gibson, se tornaria verdade algumas horas depois.
Mais especificamente, uma hora e meia, quando entra uma funcionária da USP na sala e diz para a professora: “explodiram o WTC”. Demorei 10 minutos até chegar ao sexto andar do prédio da Editora Globo, redação da Época. Foram 32 horas trabalhando na cobertura do 11 de setembro. Algumas anotações que encontrei hoje no meu palm, datadas de 11 de setembro:

O jornalismo digital mostrou sua força como mídia de massa. Semana histórica, capturar todas as telas.

Nasceu Lucy, minha cachorra cooker, filha do 11 de setembro.

Quase perdi um amor soterrado no WTC.

Nunca trabalhei tanto, só no plantão de 31 de dezembro de 1988, no Estadão. Jamais esquecerei que faltavam apenas 10 minutos para o fim do ano, quando o Bateau Mouche não suportou o excesso de peso e começou a afundar. Foram 55 mortos. As informações chegavam por telex.

UOL altera a home devido ao alto tráfego de usuários (foto).

Muita coisa mudou de 2001 até hoje. A Lucy agora é uma balzaquiana, o UOL nunca mais teve que mudar sua home-page, o amor não morreu soterrado, mas se foi, e o telex virou artigo de museu. Mas têm coisas que não mudam. As grandes tragédias mobilizam a imprensa e o terrorismo nos assusta a cada amanhecer de um novo 11 de setembro. Muita paz para todos amanhã.

Um pouco de Itália neste país de Lula, Alckmin e HH


Não sei vocês, mas eu estou cada dia mais cheia desta eleição. Não tem proposta de governo no horário político, não tem discurso, não tem mais partido -- o PT sumiu da campanha do presidente Lula à releição. O Alckmin não anima nem os vizinhos de Pinda, sua cidade natal. Ou seja, estamos com "Amnésia eleitoral", como nos diz Mino Carta, na reportagem de capa da revista Carta Capital www.cartacapital.com.br desta semana. Ele reafirma bravamente seu apoio a Lula, como fez em 2002. Eu já não sei o que pensar.

Ainda sobre o filme que citei hoje (Manual do Amor), não posso deixar de comentar sobre o ator italiano Silvio Muccino www.silviomuccino.tk, que faz o protagonista do primeiro episódio (Apaixonar-se) e está perfeito no papel de Tommaso, que fica perdidamente apaixonado por Giulia -- le fasi dell'Innamoramento: il primo appuntamento, il primo bacio, il sesso sfrenato, la convivenza....
A paixão pela Itália, as cenas cotidianas e o humor ácido do diretor me fizeram viajar e esquecer o Brasil retratado no horário político. Precisamos de beleza para aguentar esta Eleição sem qualquer propósito.

9.9.06

La dolce vita


Na segunda edição da revista Lugar, veiculada hoje, junto com a Folha de S. Paulo, convidaram três pessoas ligadas ao cinema para escrever sobre seus destinos preferidos. "A diretora Laís Bodanzky escolheu falar sobre Carolina, um bucólico vilarejo no extremo sul do Maranhão. Karim Aïnouz, que fez "Madame Satã", entre outros filmes, declarou-se a Berlim. Apaixonadamente. E Leon Cakoff, diretor da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, pousou seu olhar crítico sobre Cannes, cidade esquadrinhada por ele desde 1971, nos tempos em que encontrava John Lennon e Yoko Ono flanando pelos bulevares da riviera francesa. Mas foi o texto de Roberto de Oliveira, Itália by bike, que mais me fez sonhar. Talvez por ter assistido "Manual do Amor" ontem. O diretor Giovanni Veronesi consegue retratar com humor as quatro fases do amor: Paixão, Crise, Traição e Abandono. A paixão pela Itália, as cenas cotidianas e o humor ácido do diretor nos fazem viajar. Realmente, como diz o lead da reportagem da revista Lugar, o cinema nos faz viajar. E viva a Itália dos meus avós Joseph Ferrari e Angelina Magdalena.

6.9.06

A farsa política do PT

"A humilhação, a infelicidade, a contradição são coisas que nos foram dadas para serem transformadas: devemos "fazer com que as circunstâncias miseráveis de nossa vida se tornem coisas eternas ou em vias de eternidade."
JORGE LUIZ BORGES
Ando tão envergonhada de ser brasileira, sinto-me como o Jabor, ontem no Estado de S. Paulo, quando diz que precisamos de beleza para superar o dia-a-dia pesado e triste. Como Lula consegue 50% de aprovação? Como podemos esquecer o PT? Lula está acima do bem e do mal? E o PSDB? Cadê o partido? Nem votar nulo resolve, o que será que resolve quando sentimos que passou do limite?
Acho esta citação de Borges enquanto coloco Vanessa da Mata, "Não me deixe só", no drive de CD do computador......"Eu tenho medo do escuro, eu tenho medo do inseguro, dos fantasmas da minha voz....

27.8.06

Alice 2

Alice



And so it is
Just like you said it would be
Life goes esasy on me
Most of the time
And so it is
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky
I can´t take my eyes off of you
(The Blower´s Daughter)

A cena em "Closer" onde Alice é fotografada por Anna mostra a tristeza de uma Alice que sabe que Dan a trai com Anna. Ao rever esta cena hoje, parando e voltando, umas 5 vezes, tenho que concordar com a afirmação de Margarida Firme da Silva, em seu trabalho de pós-graduação, intitulado, "O estranho perante a captura do olhar", onde ela consegue descrever em cinco linhas o que nós, Alices, vivenciamos hoje na sociedade pós-moderna:
"A cena entre as personagens femininas é sutilmente alinhavada pela competitividade que ultrapassa o verdadeiro amor. O importante é conquistar para ter e ser socialmente. E não conquistar para partilhar. (...) Algumas mulheres defendem-se neste mundo machista, disputando com outras mulheres. Levar o homem como um troféu disputado e conquistado".

O HQ "Lost Girls", recém-lançado pelo premiado quadrinista britânico Alan Moore, mostra o encontro de três meninas que povoam nosso inconsciente coletivo: Alice, do país das maravilhas(Lewis Carrol), Dorothy, do Mágico de Oz (Lyman Frank Baum) e Wendy, de Peter Pan (John Barry). Depois que Moore conheceu Melinda Gebbie, artista underground dos quadrinhos californianos, e começaram a namorar, o projeto "Lost Girls" começou a ser desenhado; o que demorou 16 anos para ser finalizado. Para Moore, o HQ é pornografia e explora a imaginação sexual. O encontro das três personagens ocorre entre 1913 e 1914, sendo Alice, a mais velha, Wendy, a do meio, e Dorothy, a mais jovem. A Editora Top Shelf, vende a caixa de Moore pela Amazon.

QUEM ÉS TU ? Pergunta a rainha para Alice:

“Eu ..já nem sei minha senhora, nesse momento..Bem, eu sei quem eu era quando acordei esta manhã, mas acho que mudei tantas vezes desde então".... me sinto como Alice neste momento.

21.8.06

Novembro está chegando

A banda New Order mudou a cara da Pop Music, já na sua fundação, início dos anos 80. Blue Monday (recordista de vendas no formato single 12) poderá ser ouvida novamente em novembro no Brasil. A banda se apresenta no dia 11, em Belo Horizonte (Chevrolet Hall), dias 13 e 14, em São Paulo (Via Funchal) e 16, no Rio de Janeiro (Fundição Progresso). Hits como Electronic, Monaco e The Other Two, também são esperados por nós. Este ano a banda traz a coletânea Singles, que coloca lado a lado clássicos da banda e influências tão diversas, como o electro, o rock, o dance e o punk, tudo combinado pela musicalidade romântica, moderna e selvagem do New Order. Corram que os ingressos estão acabando!

17.8.06

Noite longa, pensamentos distantes

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros, ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu a amei, e às vezes ela também me amou.
Em noites como esta eu a tive entre os meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela me amou, às vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela. E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la. A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe. Minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Como para aproximá-la o meu olhar a procura. Meu coração a procura, e ela não está comigo.
A mesma noite qeu fez branquear as mesmas árvores. Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas quanto a amei. Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos. Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame. É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.
Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços, a minha alma não se contenta com tê-la perdido.
Ainda que esta seja a última dor que ela me causa, e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
* Os Vinte Poemas - extraído do livro Antologia Poética, de Neruda

15.8.06

O livre acesso a artigos acadêmicos cresce na rede

A ONG e-prints http://romeo.eprints.org/stats.php, uma organização que briga pela disponibilização e acesso livre, na Internet, para artigos acadêmicos publicados em periódicos científicos, acaba de publicar o resultado parcial da sua última pesquisa. Editoras de peso como Cambridge University e Sage já aderiram ao modelo de disponibilização na internet, em pdf, de dissertações, teses e artigos. Não posso esquecer de citar o excelente exemplo português de disponibilização de conteúdo acadêmico na rede, o BOCC http://www.bocc.ubi.pt/, Biblioteca Online de Ciências da Comunicação. Vale a pena lutar pelo direito ao livre acesso. Participe!

10.8.06

Todo se transforma


Tu beso se hizo calor/ luego el calor, movimiento/ luego gota de sudor/ que se hizo vapor, luego viento/ que en un rincón de La Rioja/ movió el aspa de un molino/ mientras se pisaba el vino/ que bebió tu boca roja/ Tuo boca roja en la miá/ la copa que gira en mi mano/ y mientras el vino/ caía/ supe que de algún lejano/ rincón de otra galaxia/ el amor que me darías/ transformado, volveriá/ un dia a darte gracias/ Cada uno da lo que recibe/ uy luego recibe lo que da/ nada es mas simple,/ no hay otra norma:/ nada si pierde, / todo se transforma/

Estou apaixonada pelo uruguaio Jorge Drexler www.jorgedrexler.com/eco. Suas letras foram gravadas por Adriana Varela e Bajofondo Tango Club, entre outros nomes latinos. Seu penúltimo álbum, "Sea" ganhou Grammy Awards, da MTV Latina, e foi eleito entre os 10 melhores álbuns de 2001 pela revista Rolling Stone Argentina.


Você já olhou o céu agora a noite? Então levante do computador, do sofá ou da cama, abra a janela e olhe a noite linda e quente que está lá fora, agradeça por cada oxigênio respirado.....Viver sempre vale a pena!

... futuros amantes, quiça
se amarão sem saber
com o amor que um dia deixei pra você ...(Chico Buarque)

9.8.06

Príncipe eletrônico

A fortuna e a virtù, das quais falava Maquiavel, tornaram-se, como nos conta Octavio Ianni, os atributos do príncipe eletrônico. "A comunicação, informação e propaganda podem transformar, da noite para o dia, um ilustre desconhecido em figura pública notável (..). O marketing político, com suas técnicas de montagem, colagem, mixagem, bricolagem e simulacro pode realizar o milagre da criação". Nada melhor para definirmos o blog do Zé Dirceu blogdodirceu.blig.ig.com.br, que estreiou ontem no IG. Segundo o Último Segundo, o blog recebeu algumas críticas de usuários e muita repercussão na mídia impressa. Com o slogan:

"O objetivo deste blog é ser um espaço democrático de discussãodo projeto nacional em desenvolvimento, de reflexão sobre o futuro do país, de disputa política e de expressão da luta social", o blog do Zé é a infeliz constatação de que o palco eletrônico faz com que a experiência e a consciência se dissociassem da mesma maneira que as palavras e as coisas.... o ser e o devir tornam-se um espaço tênue e propicio para aproveitadores, como tão bem nos ensina Ianni.

4.8.06

A nova febre do Livecoding


Imagine um DJ que improvisa sua performance ao vivo, proporcionando um show diferente a cada apresentação? Adicione um pouco de irreverência, letras que lembram os manifestos da década de 60, timbres sintetizados na hora, enfim, uma catarse geral. Os clubes e as raves, que agitam a Europa neste fim de verão, já aderiram a febre da música eletrônica ao vivo. Batizadas de "Livecoding", as produções utilizam programas de computador para gerar melodias aleatórias, timbres novos -- tudo mesclado com letras irreverentes, excêntricas e muita rebeldia. O artista Robert Henke (foto) é um dos grandes expoentes da mania musical.
A TOPLAP [www.toplap.org], uma organização que se define como temporária, conta toda a história do Livecoding.

31.7.06

Sandwich Hall

"O meu jardim da vida ressecou, morreu. O pé que brotou Maria, nem margarida nasceu" canta uma atendente retada. Peço um Oxente. Ao invés da lembrancinha, ganho um casadinho -- aquele doce meio chocolate, meio beijinho. Ela sorri, com um sorriso largo, e diz feliz ao devolver o troco:
-- Dá sorte comer com ele, vira casamento.

Carne, queijo, molho rosê, milho, alface, tomate e pão. Que delícia este Oxente!
-- Quem precisa de um big taste? Mordo o casadinho, olho o mar de Ondina e agradeço a Deus por este dia maravilhoso. www.sandhall.com.br

23h30. A noite no Rio Vermelho é quente, sem brisa, 28 graus, típico inverno baiano. Peço um acochadinho...

Carne de sol desfiada, purê de batata, creme de leite e forno para dourar. É um manjar dos deuses, diz o garçom simpático do Póstudo.
-- Quero um, digo alegre cantando Djavan -- som que uma banda cover toca ao fundo. O vocalista, remixou o visual do Capital Inicial e colocou um pouco de pimenta. O resultado? Muito bom e com cara de Brasil.

01h00. Sr & Sra. Smith em um canal a cabo. Melhor ir dormir que amanhã tem mais. Que o Senhor do Bonfim nos proteja.

27.7.06

Montage no Campari Rock

Misture um pouco de Daft Punk, Kraftwerk, Marilyn Manson, David Bowie e funk carioca, Mexa bem. Acrescente uma dose de irreverência cearense e o resultado será um coquetel explosivo, Montage, a nova onda hype de Fortaleza. O primeiro CD vendeu 500 cópias em medos de 100 dias. A música "I trust my dealer" nos remete aos porões sombrios das boates de Berlim dos anos 80, num visual muito próximo ao proposto por Wim Wenders em "Asas do Desejo".
Já o remix funk aparece com tudo em "Ginastas cariocas", uma batida com direito até a celular tocando no meio do baixo. A banda estréia em São Paulo no Campari Rock, em 6 de setembro, e as músicas estão disponíveis no site [www.tramavirtual.com.br].

24.7.06

Amaralina, Barra , Graça

O piso hidráulico do hotel me pareceu familiar. Me senti em casa. Acho que já morei em uma casa com este piso. A chuva cessou e amanheceu um dia lindo, azul, sol forte, denso. A tapioca do café da manhã faz cócegas em meu céu da boca. Começo a rir sozinha. Preciso comprar farinha, anoto no guardanapo ao meu lado. O mercado central é uma viagem. Sempre passo para um oi rápido e saio cheia de farinha, cocada e cachaça.
Resolvi ir logo cedo para a Barra -- adoro este farol, aliás adoro faróis com mais de 400 anos. Pego o ônibus Amaralina e deixo a brisa do mar me guiar.
O baiano é alegre até em uma segunda-feira; dois garotos cantam na fileira da frente, uma velhinha vende pé de moleque. Penso baixinho: Cheguei Ogum. Vim te ver meu pai. Desço no Farol da Barra. Um vento forte desarruma meu cabelo, fico absorvida por uma roda de capoeira. Resolvo tirar as havaianas e sentir a areia grossa em meus pés. Perco a noção do tempo. Percebo que em minha direção vem o mais velho do grupo. Ele tira uma fitinha branca do Senhor do Bonfim do bolso da calça de mala verde e se aproxima.

-- Salvador vai limpar toda sua dor
--Aceita este presente?
--Digo que sim com a cabeça
-- Vou colocar no braço esquerdo, o lado do coração.

Sai devagarinho e volta para a roda de capoeira. Me sinto ótima e resolvo descer e entrar no mar. Agradeço Iemanjá no caminho. Com água até a cintura, olho para trás e o vejo me cumprimentando com o braço. Mergulho. O mar me acaricia, me abraça. Axé!

19.7.06

Miranda July e Kevin Spacey em uma tarde de sol


Los Angeles sempre ambientou roteiros interessantes. Short Cuts, entre vários outros filmes, já utilizou o subúrbio da cidade para narrar histórias cotidianas. Agora é a vez de Miranda July contar a trajetória de Richard (John Hawkes), um vendedor de calçados que vive a separação no casamento e o dia-a-dia quase esquecido com os filhos. Miranda mixou internet, solidão, filhos adolescentes, vizinhos suburbanos, velhice, arte e sapatos...Mexeu bem e nos ofereceu um ótimo caldo pós-moderno.

Me identifiquei tanto com Richard, quanto com Kevin Spacey, no papel de Lex Luthor, muito mais interessante do que Brandon Routh como Superman. Talvez, por achar que dias ensoladorados de férias merecem companhias doces, apaixonantes. Talvez porque acredito em seções duplas, muita pipoca, Kriptonita na mochila e uma excelente dose de humor. Por que não aproveitar melhor as férias? Misture os filmes, divirta-se!

9.7.06

O olhar de Valencia


A exposição "De internet al mundo Real", instalada no centro histórico de Valencia, traz novos olhares para a fotografia. Após realizar um concurso, o site EP3premiou cinco novos talentos latinos. Sandra Vila, 22 anos, está entre os destaques. A partir de fotografias da própria anatomia, ela propõe reflexões sobre a mulher e seu corpo. Já Jose Luis Carnes, 24 anos, preferiu trabalhar com fotos em preto e branco e que retratam o cotidiano espanhol. As fotos podem ser vistas no site espanhol.

4.7.06

Eu tenho filhos Calvin


Ontem tive a certeza, depois de tantos anos lendo Calvin para dormir, que minha profecia continua viva. Digo profecia porque quando estava grávida consumia as tirinhas de Calvin com o mesmo desejo que consumia carpaccio, isso mesmo, aquela iguaria rara, fininha e deliciosamente fria. Nunca acreditei em grávidas que sonham com manga verde, leite com alguma coisa, fazem sapatinho de tricô e se vestem com roupas feias, com lacinhos e compram camisolas horríveis para a maternidade. Meus desejos eram dois: que o menino nascesse um Calvin e que o carpaccio nunca acabasse, nem as alcaparras.
Enquanto atualizava este blog, também fazia sopa, uma sopa com cara de mãe para uma noite fria de inverno. As duas coisas juntas não derem certo e a sopa derramou. Ouço meu filho falando na cozinha: "mãe que tem blog, não pode acertar na sopa"...Oba! Mais um Calvin no mundo.

3.7.06

A fantasia do confete azul

fim de festa
purpurina
cabelo desarrumado
suor
gruda amolda
alinhava o lençol
uma carne imóvel
se sentindo copo vazio
borda suja

palavras passam rapidamente
o teto fica íngreme
vejo ontem
e amanhã
ao mesmo tempo

confetes no carpete
procuro o azul
aquele
que você me deu
talvez atrás
atrás de mim
talvez quando eu era eu
ontem
com copo cheio
sorriso de aluguel
Hoje
agora
sou a procura
o desespero do confete azul
aquele perdido
embaixo dos lençóis
cobertor de alma
pequena
que se vestiu de azul
e
se descubriu
quando viu o confete azul

2.7.06

O devir da lagarta

Uma lagarta virou borboleta no meu jardim esta semana. Foi um processo lento e solitário. Todos os dias eu ia dar uma espiada e ela estava lá, quieta esperando o devir. Toda metamorfose exige paciência, tranquilidade e persistência. Sempre fiz mil coisas ao mesmo tempo. E esta dor no peito, que carrego como acessório, me ajudou a perceber que a lentidão pode ser a saída. Me permitir olhar os vazios do dia, a neblina, a beleza de uma segunda-feira chuvosa -- típica dos cancerianos, pessoas que adoram praia com chuva, só para ficar ouvindo o barulho do mar, entrelaçado com o som da chuva. Seres que fogem no dia do aniversário, querem um porto seguro para ficarem quietos.
Perceber as pequenas sensações ao seu redor, tirar um dia para arrumar a casa, abrir caixas com a delicadeza de quem abre um presente muito esperado. Isso exige silêncio, sintonia com o Universo, um som doce ao fundo e respeito pelo novo, por cada canto, cada armário, cada vela acesa.
A cada carta achada, uma história relembrada, a cada livro limpo, uma dedicatória que ressurge da estante e nos enche de lembranças. A lagarta me fez perceber que nossas histórias são lindas, cheias de detalhes. Me pego, reclamando baixinho, querendo acabar logo com a bagunça, com medo do novo. Ia quase desistir, mas daí me lembrei da lagarta e do adeus que dei para ela antes de ontem. Foi uma conversa rápida.
-- Você ficará borboleta logo. E eu também. Nos veremos em breve. Até.

26.6.06

O velho álbum de figurinhas


Mais de duas horas por dia na frente do computador prejudica a saúde dos adolescentes e favorece à obesidade, li no Link de hoje, ao tomar meu café da manhã. Crianças e adolescentes que se isolam em casa e, munidos de toda a parafernália tecnológica -- msn, jogos online, orkut, ipod, palm etc, acabam engordando. Fiquei pensando que vivemos uma transição geral, de tudo. Hábitos, valores, costumes. Ao mesmo tempo que concordo com a reportagem, também não posso deixar de reconhecer que no meio de tanta tecnologia, os adolescentes e até os jovens universitários brincam de trocar figurinhas da Copa.

Ontem, um domingo de sol nos arredores de São Paulo, me deparei com dois adolescentes sentados na calçada, disputando duas figurinhas brilhantes. O mais alto, esperava ansioso pela última figurinha para completar seu álbum. O garoto de cabelos compridos, brinco de argola e tênis Reef, já estava preenchendo seu segundo álbum, pelo que ouvi da conversa de ambos. Felizes, ambos deixaram seus ipods esquecidos no chão por alguns minutos.

A italiana Panini, com sede na cidade de Modena, norte da Itália, vive e bem, de vender álbuns de figurinhas -- aquele velho hábito que temos desde criança. Mais de 4 milhões de álbuns da Copa 2006 e 45 milhões de envelopes já foram vendidos no Brasil. Presente em 110 países, o álbum de figurinhas da Copa promete diversão em qualquer lugar, a qualquer hora.

23.6.06

Sem cor

Como já disse Sto. Agostinho: "Tirai-me do pecado, mas não agora".



Abandono a película em preto e branco, quero cor.
Lábios rosados, olhos cor de mel.
Cansei de ser azul, quero o magenta, a quinta cor. Busco a festa iluminada de prata
Vamos dançar ao som da lua? Comer luz, pétalas de rosas?
-- Farei uma salada de margaridas para o almoço.
-- Traga o líquido azul, peço baixinho cantarolando em amarelo manga.

Azul


Remixando as palavras de Pedro, também acredito que as mães sejam azuis. A Granja, terracota. Salvador, cor de Olodum. A avenida Paulista é cinza, um cinza claro (20% de preto), o que combina com dias frios e chuvosos. São Francisco é vermelha, guardamos a Golden Gate na alma. E Londres? Londres é azul como Candem Town, onde comi a melhor comida vietnamita de todos os tempos. Era vermelha, amarela e verde.

Amarelo


A camisa listada de azul, bege e verde estava aberta até o terceiro botão, o cabelo despenteado. O Buick, 1970, amarelo, brilhava ao sol. Uma corrente de ouro emoldurava seu pescoço gordo. Vestida de tomara que caia florido, Juliana parecia feliz. A porta do motel acabara de abrir, vejo o casal se beijando demoradamente, enquanto esperam os documentos.

Juliana aceita o alpino que atendente oferece, desembrulhando um para o Carlos. Saem alegres numa amarela manhã de sol. Acordo suada, aflita. Olho ao lado e vejo Carlos dormindo. É o terceiro sonho com a mesma temática esta semana. Resolvo tomar um banho quente. Fico dez minutos embaixo do chuveiro relembrando a cena. Pego o sabonete e me esfrego tanto, que a pele começa a ficar vermelha. Sinto nojo. Desço a escada com pressa, abro a porta da sala e saio em busca do sol. Não aquele cor de Buick, mas outro, novo.

22.6.06

Verde


Voltaire dizia que o casamento é a única aventura ao alcance dos covardes. Fico pensando nesta frase ao olhar meu cabelo verde no espelho retrovisor do carro. Faço um rápido balanço do feriado, enquanto tento esconder as faixas verdes no cabelo.
Sinto meus braços doerem e percebo que já não aguento pintar como antes. Mesmo acabada, estou feliz por ter uma parede verde mato na sala.

Quero voltar à cena do caixa e responder para a gorda mal amada que foi grossa comigo há 10 minutos. Não consigo, fique imobilizada ouvindo Otto no som do carro. Todos nós buscamos o carinho de um jantar romântico e mesmo cansada, fui comprar morangos, chocolate, gorgonzola e um vinho chileno. A noite prometia ser fria, com chuva fina e queda de temperatura, ouvi logo cedo no Bom Dia Brasil. Para mim, ela seria quente, doce e redonda como uma mangueira, que nos abraça com suas raízes largas e sábias.

Congelo o tempo e me vejo na fila do caixa de 10 volumes. A gorda está lá, lenta, com seu cabelo que um dia já foi loiro e hoje é desbotado e triste. O careca na minha frente, compra papel higiênico, três pães e uma lâmina de barbear azul. A senhora, acompanhada da enfermeira, passa uma caixa de leite desnatado e um pacote de gelatina de abacaxi. Ela deve ser diabética, pensei.

O jovem lobo de meia idade, magro de academia, paga um suco de uva light e um caneloni congelado light, de ricota, com uma nota de R$ 50. Em primeiro plano, na diagonal, vejo uma loira triste, pálida e grávida de uns cinco meses. Ela está inteira de bege -- bege não é uma cor para carregar um bebê, é muito triste e pastel. Ela compra um shampoo para cabelos descoloridos e um pacote de filé de pescada. Fico com vontade de conversar com ela, dizer para trocar por uma picanha vermelha.

Ufa, chegou a minha vez. Passo os morangos, o vinho, o primeiro queijo. A gorda seca meu cabelo com seus olhos sem brilho e diz:

-- O jantar de hoje promete?

Fiquei muda, envergonhada, quis deixar tudo ali e sair correndo sem olhar para trás. Ela deve ser covarde e acreditar em casamento. Decidi resistir e passar todos os itens calmamente. Ao entrar no carro percebo meu cabelo verde e também me dou parabéns por ter conseguido realizar o sonho de um feriado redondo, numa esquecida quinta-feira.

Vermelho


“Festa estranha, com gente esquisita, eu não tô legal”, lembrei-me automaticamente de Renato Russo. Para comemorar os 14 anos de Rogério, Amparo fez questão de preparar 100 hotdogs, deixando-os ao redor dos molhos. Os saches de ketchup ficaram arrumados em uma cesta de vime na mesa central.

A maionese, em cestas menores decoradas com crochê e dizeres: sirva-se. Nunca tinha entrado na casa de Amparo até aquele dia. Ela me recebeu afobada dizendo que não iria me recepcionar com pompa, pois estava pintando a parede da sala.

-- Vivo sem tempo, só de sábado consigo melhorar a aparência desta casa.
-- Mas fica à vontade, falou saindo carregando nas mãos um rolinho amarelo de espuma, de uns 20 cm. Fico ali vendo os porta-retratos de Rogério bebê, Rogério no campeonato de futebol da escola e agora na 8. série.

-- Como uma mãe se põe a pintar a casa no dia da festa do filho? Pergunto em silêncio.

Resolvi dar uma volta para ver a cor da casa. Apenas cinco meninos jogam videogame em uma TV preta, de 14 polegadas, improvisada para a festa. Ao fundo, Amparo, com seu cabelo todo respingado de branco, pois ela diluiu demais a tinta e agora a Suvinil látex escorre pelo rodapé.

Finalmente consigo entregar o presente. Ele abre, muito tímido, a caixa. Seus olhos, cor de jambo, brilham ao ver que ganhou um CD do Green Day, sua banda favorita. Trocamos dois beijinhos rápidos e ele convida os amigos e a mim para um saboroso hotdog.

As salsichas arrumadas como se fossem participar de uma maratona – todas dispostas lado a lado na travessa. Começo a comer. Seu Luiz, pai de Rogério, vem me cumprimentar. Ao se aproximar, ouço ele resmungando com Amparo.

-- Como os meninos irão comer com este cheiro de tinta fresca?

Ela nem responde, está em outro mundo, distante, com o olhar fixo na parede. Foi tudo muito rápido; ouço apenas Amparo gritando o nome de Rogério. Questão de segundos, Rogério explode um sache de ketchup na parede branco neve.

Vermelho sangue na festa de aniversário.

20.6.06

Remixaram o vinil


A estética new wave está de volta. O vinil, um dos materiais mais usados dos anos 80, presente nos chaveiros gorduchos da OP, carteiras, tênis, entre outros itens, voltou com força total. A Redley aposta suas fichas em confortáveis e coloridos tênis para a moda verão 2007. O estilista Alexandre Herchcovith já tem alguns modelos nas lojas. Isso me animou, logo cedo, a pegar meu vinil do New Order, colocar uma camiseta verde limão e dançar pela sala, lembrando da colorida época new wave. Erica Palomino conta mais sobre a volta do vinil. Leia mais

15.6.06

Eu quero minha passagem para Barcelona

A 13ª edição do Sónar, que começou hoje em Barcelona, está imperdível. Cadê minhas milhas? Onde eu as perdi? Os estilos estão tão ecléticos -- DJs, VJs e artistas multimídia -- que a organização escolheu universos antagônicos: de um lado, os ritmos negros, de outro, os sons do país que sintetiza a tecnologia, o Japão. São 604 artistas de 22 países, tudo embalado com muito reggae, jazz, hip hop, funk, dub e disco music. Já ouviram falar em Digable Planets, Linton Kwesi e Jeff Mills? Não percam tempo, procurem os mp3 deles no google.

Barcelona, que te adoro tanto. Já me vejo nos eventos do Sónar by Day, no agitado bairro do El Raval, com seus árabes bonitos, tipos estranhos e meninas que trabalham duro nas esquinas. A auto-estrada M2 sediará os eventos by Night. Se você, como eu, não acha sua passagem. Divirta-se pelo site Sónar

Quadrado mágico

A neblina forte impedia que eu enxergasse a estrada. O frio me convidava a dormir mais. Não posso, preciso ir encontrar a loira. Chego cedo e as mesas da padaria já estão quase todas ocupadas. Ao meu lado, quatro executivas, com seus terninhos bem cortados, falam sem parar. Elas conversam sobre casamento; nenhuma delas havia ganhado algo de dia dos namorados. Não resisti e continuei ouvindo a conversa alheia, adoro, confesso.
Começam a comentar sobre o J. Leko, o jogador croata que jogou muito na terça-feira contra o Brasil. Nesta hora quis me aproximar da mesa e me apresentar, dizer que também fiquei com o J. Leko na cabeça, sintonia feminina. Mas continuo espiando apenas.
A japonesa, uns 37 anos, terno vinho -- a cor do inverno --, balança os pés constantemente e reclama, estressada, da falta de espuminha no café. Diz que quadrado mágico é o que ela tem em casa. Quatro filhos pequenos, sendo dois gêmeos.

-- Terça, durante o jogo, tive certeza que o Carlos me trai.
-- Todo homem começa o adultério pelo sms, torpedos animados etc. Ele passou o jogo teclando no celular. Só gritou pelo Kaká. Me disse que era o pessoal do escritório, depois ficou mexendo no celular enquanto comia os quibinhos que fiz para o jogo.
-- Vocês acreditam nisso?
-- E você vai fazer o quê, pergunta o terninho verde musgo?
-- Nada, vou para o banco, como o Ronaldo, peço um lanchinho e espero jogos melhores. Com um quarteto mágico em casa, não tenho estratégia, tenho estrelas que esperam a redenção.

12.6.06

Sarau do Saldanha

Nos dias 03 e 04 deste mês aconteceu, no Capão Redondo, periferia de São Paulo, o primeiro Encontro de Literatura Marginal. Organizado pelo escritor e rapper Ferréz, o evento reuniu autores e autoras, da Zona Sul da capital, na Barraca do Saldanha. Sérgio Vaz, Márcio Batista e Elizandra Souza, do jornal Becos e Vielas, prestigiaram o projeto.
Todo organizado em forma de sarau, Ferréz chamava ao microfone os escritores que recitavam poemas e textos. Quem precisa ter livro publicado para atingir seu público?

Desplugada num final de semana de sol

A primeira sensação é de ansiedade, depois de vazio. Por motivos que só a Física clássica consegue explicar, fiquei sem telefone fixo, sem speedy e TV a cabo. O silêncio da casa era assustador. Percebi que não assisto TV aberta faz tempo. A voz do Faustão me irritava. Abri a Folha de S. Paulo e o jornal de domingo era um "dejavú" de sexta-feira. Desisti de encará-lo também. Como ficar sem os jogos ao vivo da Copa? Como não responder aos e-mails que tanto espero? Parece aquele dia sem energia elétrica, que fui dormir bem cedo. Até a cachorra está triste, deitada aos meus pés.
Engraçado isso. Resolvi, depois de desistir de brigar com o péssimo atendimento da Telefonica, ir cuidar das plantas. Coloquei terra nova e adubada nos meus vasos de antúrios, minha nova paixão. Ao entardecer fui arrumar as gavetas, os CDs etc. A lua cheia invadiu o céu do meu quarto. Fiz um chá de capim santo, colhido do meu quintal; coloquei Marisa Monte e fiquei olhando o céu. Sobrevivi bem sem a rede, só precisava olhar para o céu.

8.6.06

Democratização da leitura

Em 1º de Junho de 2006, o Instituto de Direito do Comércio Internacional e Desenvolvimento (IDCID), Organização Não Governamental (ONG) composta por docentes renomados, ajuizou Ação Civil Pública (ACP) contra a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR), sendo que desde então a mesma tramita perante a 5ª Vara Cível de São Paulo, Capital, sob os cuidados do Juiz Adevanir Carlos Moreira da Silveira. A ABDR, entidade representante de algumas empresas editorais brasileiras, desde 2004 implementa, em todo Brasil, atividades para evitar que estudantes e professores reproduzam, parcialmente, obras protegidas para fins educacionais, pesquisas acadêmicas e docência.

Desde então, o ato de fotocopiar passou a ser nivelado a uma infração penal gravíssima, e os professores e estudantes tidos como piratas, bárbaros e criminosos. Estas atividades se baseiam no argumento de que a reprodução de obras protegidas, mesmo que para fins incontestavelmente públicos, inibe o desenvolvimento cultural do Brasil. Será que a discussão não é mais ampla? E os livros esgotados e fora de catálogo? Como nós, educadores devemos proceder? Muitas Universidades começaram a estimular os docentes a produzir um pdf do capítulo. Ou seja, o problema sai, aparentemente dos Centro Acadêmicos e xerox, e passa para o docente, que além de infrator, também tem que ter scanner em casa e produzir arquivos digitais de livros?

Leiam mais sobre o assunto no site do projeto A2K

Você tem medo do quê?

Tanto na fotografia quanto na videoarte, Cláudia Jaguaribe opta por um registro documental de forma poética. A linguagem escolhida nessa individual é o vídeo, representado pela instalação Você Tem Medo do Quê? com projeções em telão e imagens exibidas dentro de uma caixa, baseadas em consultas ao público pela internet. O domínio que Cláudia têm da videoarte é um reflexo do trabalho pioneiro do argelino Fred Forest, cuja produção desde os anos 60 ganha retrospectiva.
Representante da chamada arte midiática, sua obra utiliza-se das mídias e meios de comunicação como jornal, telefone, rádio e internet, que resultam em instalações e ambientações.

Vale conferir:
Paço das Artes. Avenida da Universidade, 1, Cidade Universitária, 3814-4832. Terça a sexta, 11h30 às 19h; sábado e domingo, 12h30 às 17h30. Grátis. Até 16 de julho.

7.6.06

O pai do "feuilleton" alemão

"Quanto a mim, eu passeio". Essa era a profissão de fé de Joseph Roth, o príncipe do jornalismo literário alemão. Estrela, nos anos 20, do estilo "feuilleton" (do francês, folhetim), Roth, segundo Alberto Dines -- autor do posfácio de "Berlim",livro recém-lançado pela Cia das Letras --, teve uma trajetória que foi um modelo de integração de jornalismo com literatura. Era um escravo da atualidade, afirma Dines.

No primeiro capítulo, "Sair a passeio", Roth descreve um dia de primavera em Berlim. Uma cidade muito diferente da atual, preparada e empacotada para a Copa do Mundo.
Num dos trechos mais fantásticos do capítulo, ele diz: (...) "O diminutivo das partes impressiona mais que a monumentalidade do todo. Já não tenho gosto pelos gestos amplos dos heróis do palco universal. Quanto a mim, eu passeio"

4.6.06

Princesa Sofia ao som "Age of Consent"

Toda história tem uma música particular. Sempre acreditei nisso, mesmo quando gravava meu set list em fitas K7 e subia no telhado de casa, com meus 13 anos e meu walk-man ultra-moderno, para escrever loucamente roteiros não-lineares. Depois trocamos pelos disc-man – muito chique levar nossos CDs preferidos para outros telhados. Agora, levamos os nossos mp3 players ou ipods. Só mudamos de suportes.

A cada trajeto, encarado como solitário pela maioria dos anônimos, presos na Matrix do século XXI, nós, os que ouvimos música enquanto trabalhamos, dormimos, fazemos supermercado, dirigimos, ou estudamos para o vestibular, sabemos que a alma é sonora, não tem jeito. O áudio está presente em tudo. Solidão que nada, você que é linear e não percebeu que as conexões existem em tudo, nosso subconsciente faz isso o tempo todo, grande Freud já nos contou isso no século passado.
Sonoridade afiada é o que propõe Sofia Coppola em seu novo longa "Marie-Antoinette". Revisitar o palácio de Versalhes ouvindo "New Order" não é para todos, apenas os escolhidos, como Sofia. O festival de Cannes vaiou o roteiro enquanto assistia a deslumbrante Kirsten Dunst no papel de uma rainha Lolita. Que coisa mais linear olhar apenas o roteiro e não perceber que o filme todo se baseia na releitura que Sofia faz da França.

Anjo com sardas

Quero sair correndo, dirigir até Santos, entrar no mar, comer queijadinha; conversar com o Leão Marinho da minha infância, visitar o aquário do Gonzaga. Me sinto Kundera em “A insustentável leveza do ser”. Nunca um percurso de 15 km demorou tanto. Já que não conseguirei entrar no mar, busco um prédio bem alto. Quero sentar e olhar a cidade lá de cima. Não estarei sozinha, meu anjo da guarda vai comigo. Ele anda cansado, tenho dado bastante trabalho.

No caminho lembrei-me de “O jardineiro fiel”, o último pacote de pipoca que dividimos. O filme falava de infidelidade e amor, engraçado. Ouço “Universo ao meu redor”, num Ipod emprestado. Hoje me sinto emprestada, em outro corpo, parece que não sou eu. Canto baixinho ...

Graças a Deus, um passarinho
Vem me acompanhar
cantando bem baixinho
E eu já não me sinto só
Tão só, tão só
Com o universo ao meu redor


Marisa Monte anda tão diva do jazz, deve ser a maternidade, penso comigo. Sento na cobertura do prédio, São Paulo aos meus pés. Me vi com 19 anos no bar Brahma, esperando por um amor roubado, tinha febre de tão apaixonada; salto mais de uma década e me vejo em Puerto Madero, Buenos Aires, naquele navio de Piratas – sempre achei-o assombrado. Não queria entrar novamente lá. Um barco de guerra, só com tripulação masculina, subterrâneos e passagens estreitas. Será que se eu não tivesse entrado novamente neste navio, nosso casamento teria sido salvo? O outro também afundou neste navio. Por que não ouço a minha intuição? Talvez fosse para entrar. Às vezes ela é uma intuição não-linear, desconexa.

-- Como pode alguém ter tantos flashbacks? Pergunto ao anjo, que apenas sorri, com sorriso largo, ele tem “sardinhas”. Todos os que têm sardas, pertencem à mesma galáxia, acredito nisso.

Árida Lei

A rua estreita me angustiava. As pessoas feias também. Tudo era árido, marrom, desértico. Casas sem telhado, caixas d´água na cor azul estragavam o céu. Olhei em volta, só pobreza, muros pichados, mulheres arrastando os filhos para escola.

-- Aqui é o fórum? Perguntei para uma gorda que subia a ladeira.

-- É sim, respondeu com um olhar que engata uma pergunta: cadê o filho? Não veio pedir pensão? Só que ficou só no olhar, mas a pergunta veio no vácuo até mim.

A espera ocorria nos bancos da praça, colocados na calçada da edificação de dois andares. Sentei-me ao sol. Lembrei do dia que saí correndo para comprar um despertador, pois sabia que, a partir daquele dia, dormiria sozinha de novo, ninguém mais me chamaria para tomar café.

A vara de Família fica no piso superior, no térreo, a Criminal. Dejavú total. Vejo meu ex e a advogada num terninho rosa Barbie. Já vi esta cena antes, só que o cenário era mais bonito, prédio centenário, advogadas de preto, homens elegantes em ternos bem cortados. Gravatas Armani.

Claudia Fartollo, sala 3, grita o escrivão. O acompanho sem questionar. O tapete vermelho, disposto como em dia de casamento na igreja, cheira a mofo. A sala, com porta-dupla em mogno, tenta passar austeridade.

Ao entrar vejo o juiz em sua pose de Lei. Que jovem? Deve ser mais novo do que eu; com certeza sua primeira Vara. Ele se levanta e inicia a sessão. Percebo que sua beca é curta para ele. Que horror! Juiz feio e com beca curta. Mau presságio.

Todos começam por baixo, penso baixinho. Percebo o vaso com rosas vermelhas, de plástico. Dejavú novamente. Lembro do sábado que casamos pela manhã, num cartório feio, com balcão improvisado, toalha com etiqueta do Extra e rosas brancas, também de plástico.

Ele lê o processo, quer agradar e faz comentários sobre a importância dos pertences pessoais (livros, discos, revistas etc) para os jornalistas.

-- O casamento acabou? Os dois estão certos disto? Sim, responde Leopoldo Henrique. Já esgotamos todas as tentativas. Neste instante o tempo se congela.

Em segundos revi toda nossa história. A magia do encontro na água, o sabor do melhor beijo do mundo, da última temporada de beijos. Tudo começa a ficar turvo; vejo o juiz falando baixinho que a união não gerou filhos e isso era bom.

Percebo que tenho um estranho na minha frente. Percebo também que nosso roteiro chegou ao fim. Um final com paredes rachadas, juiz em início de carreira e uma fila de mulheres com filhos em busca de pensão alimentícia na sala ao lado.

Realmente vejo que não temos mais nada em comum. Ficou apenas a camisa, a calça, o cinto, o sapato – todos presentes meus – talvez até a cueca, mas essa não verei mais. Mas as roupas envelhecem como nós, um dia perderão a cor.

Tudo termina em dez minutos. Entro muda, assino e saio muda.