O piso hidráulico do hotel me pareceu familiar. Me senti em casa. Acho que já morei em uma casa com este piso. A chuva cessou e amanheceu um dia lindo, azul, sol forte, denso. A tapioca do café da manhã faz cócegas em meu céu da boca. Começo a rir sozinha. Preciso comprar farinha, anoto no guardanapo ao meu lado. O mercado central é uma viagem. Sempre passo para um oi rápido e saio cheia de farinha, cocada e cachaça.
Resolvi ir logo cedo para a Barra -- adoro este farol, aliás adoro faróis com mais de 400 anos. Pego o ônibus Amaralina e deixo a brisa do mar me guiar.
O baiano é alegre até em uma segunda-feira; dois garotos cantam na fileira da frente, uma velhinha vende pé de moleque. Penso baixinho: Cheguei Ogum. Vim te ver meu pai. Desço no Farol da Barra. Um vento forte desarruma meu cabelo, fico absorvida por uma roda de capoeira. Resolvo tirar as havaianas e sentir a areia grossa em meus pés. Perco a noção do tempo. Percebo que em minha direção vem o mais velho do grupo. Ele tira uma fitinha branca do Senhor do Bonfim do bolso da calça de mala verde e se aproxima.
-- Salvador vai limpar toda sua dor
--Aceita este presente?
--Digo que sim com a cabeça
-- Vou colocar no braço esquerdo, o lado do coração.
Sai devagarinho e volta para a roda de capoeira. Me sinto ótima e resolvo descer e entrar no mar. Agradeço Iemanjá no caminho. Com água até a cintura, olho para trás e o vejo me cumprimentando com o braço. Mergulho. O mar me acaricia, me abraça. Axé!
Desinformação e crise de confiança
Há uma semana
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