Uma lagarta virou borboleta no meu jardim esta semana. Foi um processo lento e solitário. Todos os dias eu ia dar uma espiada e ela estava lá, quieta esperando o devir. Toda metamorfose exige paciência, tranquilidade e persistência. Sempre fiz mil coisas ao mesmo tempo. E esta dor no peito, que carrego como acessório, me ajudou a perceber que a lentidão pode ser a saída. Me permitir olhar os vazios do dia, a neblina, a beleza de uma segunda-feira chuvosa -- típica dos cancerianos, pessoas que adoram praia com chuva, só para ficar ouvindo o barulho do mar, entrelaçado com o som da chuva. Seres que fogem no dia do aniversário, querem um porto seguro para ficarem quietos.
Perceber as pequenas sensações ao seu redor, tirar um dia para arrumar a casa, abrir caixas com a delicadeza de quem abre um presente muito esperado. Isso exige silêncio, sintonia com o Universo, um som doce ao fundo e respeito pelo novo, por cada canto, cada armário, cada vela acesa.
A cada carta achada, uma história relembrada, a cada livro limpo, uma dedicatória que ressurge da estante e nos enche de lembranças. A lagarta me fez perceber que nossas histórias são lindas, cheias de detalhes. Me pego, reclamando baixinho, querendo acabar logo com a bagunça, com medo do novo. Ia quase desistir, mas daí me lembrei da lagarta e do adeus que dei para ela antes de ontem. Foi uma conversa rápida.
-- Você ficará borboleta logo. E eu também. Nos veremos em breve. Até.
Desinformação e crise de confiança
Há uma semana
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