31.7.06

Sandwich Hall

"O meu jardim da vida ressecou, morreu. O pé que brotou Maria, nem margarida nasceu" canta uma atendente retada. Peço um Oxente. Ao invés da lembrancinha, ganho um casadinho -- aquele doce meio chocolate, meio beijinho. Ela sorri, com um sorriso largo, e diz feliz ao devolver o troco:
-- Dá sorte comer com ele, vira casamento.

Carne, queijo, molho rosê, milho, alface, tomate e pão. Que delícia este Oxente!
-- Quem precisa de um big taste? Mordo o casadinho, olho o mar de Ondina e agradeço a Deus por este dia maravilhoso. www.sandhall.com.br

23h30. A noite no Rio Vermelho é quente, sem brisa, 28 graus, típico inverno baiano. Peço um acochadinho...

Carne de sol desfiada, purê de batata, creme de leite e forno para dourar. É um manjar dos deuses, diz o garçom simpático do Póstudo.
-- Quero um, digo alegre cantando Djavan -- som que uma banda cover toca ao fundo. O vocalista, remixou o visual do Capital Inicial e colocou um pouco de pimenta. O resultado? Muito bom e com cara de Brasil.

01h00. Sr & Sra. Smith em um canal a cabo. Melhor ir dormir que amanhã tem mais. Que o Senhor do Bonfim nos proteja.

27.7.06

Montage no Campari Rock

Misture um pouco de Daft Punk, Kraftwerk, Marilyn Manson, David Bowie e funk carioca, Mexa bem. Acrescente uma dose de irreverência cearense e o resultado será um coquetel explosivo, Montage, a nova onda hype de Fortaleza. O primeiro CD vendeu 500 cópias em medos de 100 dias. A música "I trust my dealer" nos remete aos porões sombrios das boates de Berlim dos anos 80, num visual muito próximo ao proposto por Wim Wenders em "Asas do Desejo".
Já o remix funk aparece com tudo em "Ginastas cariocas", uma batida com direito até a celular tocando no meio do baixo. A banda estréia em São Paulo no Campari Rock, em 6 de setembro, e as músicas estão disponíveis no site [www.tramavirtual.com.br].

24.7.06

Amaralina, Barra , Graça

O piso hidráulico do hotel me pareceu familiar. Me senti em casa. Acho que já morei em uma casa com este piso. A chuva cessou e amanheceu um dia lindo, azul, sol forte, denso. A tapioca do café da manhã faz cócegas em meu céu da boca. Começo a rir sozinha. Preciso comprar farinha, anoto no guardanapo ao meu lado. O mercado central é uma viagem. Sempre passo para um oi rápido e saio cheia de farinha, cocada e cachaça.
Resolvi ir logo cedo para a Barra -- adoro este farol, aliás adoro faróis com mais de 400 anos. Pego o ônibus Amaralina e deixo a brisa do mar me guiar.
O baiano é alegre até em uma segunda-feira; dois garotos cantam na fileira da frente, uma velhinha vende pé de moleque. Penso baixinho: Cheguei Ogum. Vim te ver meu pai. Desço no Farol da Barra. Um vento forte desarruma meu cabelo, fico absorvida por uma roda de capoeira. Resolvo tirar as havaianas e sentir a areia grossa em meus pés. Perco a noção do tempo. Percebo que em minha direção vem o mais velho do grupo. Ele tira uma fitinha branca do Senhor do Bonfim do bolso da calça de mala verde e se aproxima.

-- Salvador vai limpar toda sua dor
--Aceita este presente?
--Digo que sim com a cabeça
-- Vou colocar no braço esquerdo, o lado do coração.

Sai devagarinho e volta para a roda de capoeira. Me sinto ótima e resolvo descer e entrar no mar. Agradeço Iemanjá no caminho. Com água até a cintura, olho para trás e o vejo me cumprimentando com o braço. Mergulho. O mar me acaricia, me abraça. Axé!

19.7.06

Miranda July e Kevin Spacey em uma tarde de sol


Los Angeles sempre ambientou roteiros interessantes. Short Cuts, entre vários outros filmes, já utilizou o subúrbio da cidade para narrar histórias cotidianas. Agora é a vez de Miranda July contar a trajetória de Richard (John Hawkes), um vendedor de calçados que vive a separação no casamento e o dia-a-dia quase esquecido com os filhos. Miranda mixou internet, solidão, filhos adolescentes, vizinhos suburbanos, velhice, arte e sapatos...Mexeu bem e nos ofereceu um ótimo caldo pós-moderno.

Me identifiquei tanto com Richard, quanto com Kevin Spacey, no papel de Lex Luthor, muito mais interessante do que Brandon Routh como Superman. Talvez, por achar que dias ensoladorados de férias merecem companhias doces, apaixonantes. Talvez porque acredito em seções duplas, muita pipoca, Kriptonita na mochila e uma excelente dose de humor. Por que não aproveitar melhor as férias? Misture os filmes, divirta-se!

9.7.06

O olhar de Valencia


A exposição "De internet al mundo Real", instalada no centro histórico de Valencia, traz novos olhares para a fotografia. Após realizar um concurso, o site EP3premiou cinco novos talentos latinos. Sandra Vila, 22 anos, está entre os destaques. A partir de fotografias da própria anatomia, ela propõe reflexões sobre a mulher e seu corpo. Já Jose Luis Carnes, 24 anos, preferiu trabalhar com fotos em preto e branco e que retratam o cotidiano espanhol. As fotos podem ser vistas no site espanhol.

4.7.06

Eu tenho filhos Calvin


Ontem tive a certeza, depois de tantos anos lendo Calvin para dormir, que minha profecia continua viva. Digo profecia porque quando estava grávida consumia as tirinhas de Calvin com o mesmo desejo que consumia carpaccio, isso mesmo, aquela iguaria rara, fininha e deliciosamente fria. Nunca acreditei em grávidas que sonham com manga verde, leite com alguma coisa, fazem sapatinho de tricô e se vestem com roupas feias, com lacinhos e compram camisolas horríveis para a maternidade. Meus desejos eram dois: que o menino nascesse um Calvin e que o carpaccio nunca acabasse, nem as alcaparras.
Enquanto atualizava este blog, também fazia sopa, uma sopa com cara de mãe para uma noite fria de inverno. As duas coisas juntas não derem certo e a sopa derramou. Ouço meu filho falando na cozinha: "mãe que tem blog, não pode acertar na sopa"...Oba! Mais um Calvin no mundo.

3.7.06

A fantasia do confete azul

fim de festa
purpurina
cabelo desarrumado
suor
gruda amolda
alinhava o lençol
uma carne imóvel
se sentindo copo vazio
borda suja

palavras passam rapidamente
o teto fica íngreme
vejo ontem
e amanhã
ao mesmo tempo

confetes no carpete
procuro o azul
aquele
que você me deu
talvez atrás
atrás de mim
talvez quando eu era eu
ontem
com copo cheio
sorriso de aluguel
Hoje
agora
sou a procura
o desespero do confete azul
aquele perdido
embaixo dos lençóis
cobertor de alma
pequena
que se vestiu de azul
e
se descubriu
quando viu o confete azul

2.7.06

O devir da lagarta

Uma lagarta virou borboleta no meu jardim esta semana. Foi um processo lento e solitário. Todos os dias eu ia dar uma espiada e ela estava lá, quieta esperando o devir. Toda metamorfose exige paciência, tranquilidade e persistência. Sempre fiz mil coisas ao mesmo tempo. E esta dor no peito, que carrego como acessório, me ajudou a perceber que a lentidão pode ser a saída. Me permitir olhar os vazios do dia, a neblina, a beleza de uma segunda-feira chuvosa -- típica dos cancerianos, pessoas que adoram praia com chuva, só para ficar ouvindo o barulho do mar, entrelaçado com o som da chuva. Seres que fogem no dia do aniversário, querem um porto seguro para ficarem quietos.
Perceber as pequenas sensações ao seu redor, tirar um dia para arrumar a casa, abrir caixas com a delicadeza de quem abre um presente muito esperado. Isso exige silêncio, sintonia com o Universo, um som doce ao fundo e respeito pelo novo, por cada canto, cada armário, cada vela acesa.
A cada carta achada, uma história relembrada, a cada livro limpo, uma dedicatória que ressurge da estante e nos enche de lembranças. A lagarta me fez perceber que nossas histórias são lindas, cheias de detalhes. Me pego, reclamando baixinho, querendo acabar logo com a bagunça, com medo do novo. Ia quase desistir, mas daí me lembrei da lagarta e do adeus que dei para ela antes de ontem. Foi uma conversa rápida.
-- Você ficará borboleta logo. E eu também. Nos veremos em breve. Até.