Estou em um beco de uma favela e preciso deixar os sapatos para subir a ladeira. Os chinelos pretos, que minha mãe me deu, ficam na entrada da passagem. Estou descalça na quebrada e sinto medo. Congelo a cena.
Vou beber água. Saio da ruela e encontro um estacionamento abandonado. Dois cachorros brancos com pintas pretas me cumprimentam. Ouço sinos tocando, mas não avisto nenhuma igreja. Um sofá rasgado aparece ao fundo de uma tenda de lona bege, suja. Sentados estão três pessoas: um preto velho, vestido de branco, um índio e uma velha mulata, cheia de colares. Carrego uma cesta de vidro transparente com água e um bebê recém-nascido submerso. Ao meu lado está Maurício, calado. O índio se aproxima e diz:
-- Que olhos lindos.
Neste instante eu olho para a cesta e me vejo bebê. Neuci, a senhora mulata, canta uma cantiga gregoriana bem bonita. Fico em paz. O negro velho entrega uma garrafa com um líquido verde para Maurício e diz para ele me levar para casa. Sentar na cabeceira da mesa -- que é o seu lugar -- e me deixar descansar, pois foi um longo caminho até aqui. Bem-vindo 2007! A vida, só deixar rolar.
Desinformação e crise de confiança
Há 6 dias
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