8.2.09

A melhor fase da vida













A mudança do ensino médio para a fase universitária é uma das mais marcantes na vida de qualquer jovem. Talvez você demore uns seis meses para concordar comigo, mas em julho já terá percebido como sua vida mudou radicalmente. Ao pensar neste nosso bate-papo, acabei congelando o tempo e me vi com 18 anos, em plena década de 80. Foi em uma noite fria de junho que conheci Hilda Hilst em um sarau de poesia promovido pelo pessoal do teatro. Vivia um momento rico da minha vida, dividida entre o curso de Jornalismo, que cursava na nossa PUC, o curso de teatro no TUCA, o estágio no jornal Porandubas, veículo de comunicação da PUC na época.
Em meio a esse turbilhão de coisas paralelas, ainda escrevia poesias. Elas brotavam em bloquinhos de papel que carregava no metrô, no ônibus. A paixão pela PUC foi logo no primeiro dia. E olha que a minha chegada foi pitoresca. Vinda de Piracicaba, acabei no prédio novo em uma sala do Direito. Isso porque eu era aluna de Jornalismo, mas entrei na sala errada, fiquei quieta, fiz pedágio na avenida Sumaré, fui parar no bar, com os veteranos, e só lá percebi que estava no curso errado, que meu prédio era do outro lado da rua Monte Alegre, lá na COMFIL.
Ser calouro é isso. Você se perde, bate uma certa insegurança, a Universidade parece confusa e não tem nada de semelhante com seu antigo colégio. Pelos corredores você verá tipos bem ecléticos, mas garanto que em menos de 15 dias você estará integrado a sua nova tribo. Sim, toda Universidade tem suas tribos e na PUC não é diferente.
Logo perceberá que as meninas da Psicologia são as mais requisitadas pelos garotos de todos os cursos – talvez seja o estilo das saias longas e as batas displicentes. Perceberá que o movimento estudantil, muitas vezes esquecido em outras faculdades da Grande São Paulo, aqui tem voz e faz bastante barulho. Também descobrirá que participar do Juca é inesquecível – mesmo dormindo em um saco de dormir, tomando banho frio e voltando sem voz para casa.
Fará grandes amigos na biblioteca como, por exemplo, a Lucinha, que sempre te atende com um sorriso contagiante. Perceberá que o Leão XXIII tem a melhor salada de frutas com leite condensado e assim você vai desvendando a Curva do Rio, o grande ponto de encontro de todas as tribos. Lembro que estudava pela manhã, estagiava no Porandubas a tarde e ainda fazia teatro a noite. Lembrei-me da minha mãe reclamando que em seis meses de PUC eu não ia mais regularmente para Piracicaba e que sempre que ela ligava para o pensionato onde eu morava, a dona Maria dizia que eu ainda estava na PUC.
Isso ainda acontece com os alunos de outras cidades, já que a PUC torna-se muito mais atraente do que a velha rodoviária. Participar do grupo de teatro do TUCA me fazia sonhar com Hamlet, melhorar a voz em aulas de canto, pensar em outras seqüências que Zeffirelli pudesse ter colocado em seu “Romeu e Julieta” e promover grandes discussões no finado Docas . Tudo ao mesmo tempo, que discutia, com o coletivo do curso de Jornalismo, a escolha do personagem “Benevides Paixão”, do cartunista Angeli, como patrono do nosso Centro Acadêmico; enquanto em outros diretórios acadêmicos, Wladimir Herzog era homenageado. Hoje, vejo que a dualidade que me fazia ser companheira de militância, por exemplo, nas RADs - Reuniões Abertas Deliberativas, também me fazia irreverente e apaixonada pelos fantásticos personagens da tira “Chiclete com Banana”, de Angeli.
Estávamos na década de 80 e eu, depois de respirar manhã, tarde e noite PUC, ainda passava minhas madrugadas interagindo com a psiquiatra Eliza, primeira linguagem computacional com reconhecimento de escrita, uma febre nos BBS . Falo de BBS e vocês são da geração YouTube. Já temos até Big Brother em mundos virtuais como o Second Life , mas posso garantir que a Curva do Rio continua mais atualizada do que nunca e que ser filho da PUC é algo que nos faz sempre querer voltar. Na PUC aprendemos enquanto andamos, respiramos ou ouvimos uma manifestação inflamada pelo fim da guerra na faixa de Gaza e o alto preço das refeições na praça de alimentação. Última dica: semanalmente tem uma excelente roda de samba na descida da Curva do Rio.

PS: Amanhã começo a dar aula para garotos e garotas que nasceram em 1990 e 1991....Como assim? 1991?

Um comentário:

Anônimo disse...

Legal, gostaria de ter aproveitado mais essa "vida" na Puc.