18.12.07

casório em grande estilo


Quando cheguei a São Paulo naquela tarde percebi que a farsa estava montada. Da escolha do vestido aos últimos preparativos para a grande festa, aquela onde a honesta família se reuniria depois de cinco anos, incluindo uma sensação que preenchia todo meu ser de ânsia de vômito e vontade de fugir. Resolvi, sem saber ao certo o porquê, me obrigar a participar desta maldade intitulada [casório em grande estilo].

Antes de terminar meu devaneio metropolitano, onde o cheiro de asfalto quente fazia com que me sentisse gente, cheguei a uma fachada horrorosa. Com um cenário hollywoodiano dos mais ultrapassados, a Gente Fina, uma loja de meio quarteirão, perdida atrás de um letreiro de néon, construía sonhos. Alugar roupas brilhosas dava dinheiro. Afinal, já tínhamos passado por mais de cinco salas abarrotadas de vestidos de noivas e madrinhas e uma infinidade de chapéus e casquetes para cabeça e, a cada passo, mulheres com cabelos tingidos e unhas fosforescentes indicavam o caminho certo, aquele que, como num passe de mágica, você se transforma de abóbora em Cinderela.

Perdida no meio de cabides modernos, entre mais de cem vestidos, tive vontade de fugir, talvez a avenida lá na frente seja bondosa e me leve para um lugar seguro e quente. Estava com frio e o grande relógio de temperatura, que vi há pouco, marcava 32 graus. A sensação não era boa e comecei a sentir o mundo virar. Achei melhor morrer do que ter que entrar dentro de uma destas alegorias horrendas. Estava quase dormindo quando ouvi a voz estridente da minha mãe me chamando...

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