26.6.06
O velho álbum de figurinhas
Mais de duas horas por dia na frente do computador prejudica a saúde dos adolescentes e favorece à obesidade, li no Link de hoje, ao tomar meu café da manhã. Crianças e adolescentes que se isolam em casa e, munidos de toda a parafernália tecnológica -- msn, jogos online, orkut, ipod, palm etc, acabam engordando. Fiquei pensando que vivemos uma transição geral, de tudo. Hábitos, valores, costumes. Ao mesmo tempo que concordo com a reportagem, também não posso deixar de reconhecer que no meio de tanta tecnologia, os adolescentes e até os jovens universitários brincam de trocar figurinhas da Copa.
Ontem, um domingo de sol nos arredores de São Paulo, me deparei com dois adolescentes sentados na calçada, disputando duas figurinhas brilhantes. O mais alto, esperava ansioso pela última figurinha para completar seu álbum. O garoto de cabelos compridos, brinco de argola e tênis Reef, já estava preenchendo seu segundo álbum, pelo que ouvi da conversa de ambos. Felizes, ambos deixaram seus ipods esquecidos no chão por alguns minutos.
A italiana Panini, com sede na cidade de Modena, norte da Itália, vive e bem, de vender álbuns de figurinhas -- aquele velho hábito que temos desde criança. Mais de 4 milhões de álbuns da Copa 2006 e 45 milhões de envelopes já foram vendidos no Brasil. Presente em 110 países, o álbum de figurinhas da Copa promete diversão em qualquer lugar, a qualquer hora.
23.6.06
Sem cor
Como já disse Sto. Agostinho: "Tirai-me do pecado, mas não agora".
Abandono a película em preto e branco, quero cor.
Lábios rosados, olhos cor de mel.
Cansei de ser azul, quero o magenta, a quinta cor. Busco a festa iluminada de prata
Vamos dançar ao som da lua? Comer luz, pétalas de rosas?
-- Farei uma salada de margaridas para o almoço.
-- Traga o líquido azul, peço baixinho cantarolando em amarelo manga.
Abandono a película em preto e branco, quero cor.
Lábios rosados, olhos cor de mel.
Cansei de ser azul, quero o magenta, a quinta cor. Busco a festa iluminada de prata
Vamos dançar ao som da lua? Comer luz, pétalas de rosas?
-- Farei uma salada de margaridas para o almoço.
-- Traga o líquido azul, peço baixinho cantarolando em amarelo manga.
Azul
Remixando as palavras de Pedro, também acredito que as mães sejam azuis. A Granja, terracota. Salvador, cor de Olodum. A avenida Paulista é cinza, um cinza claro (20% de preto), o que combina com dias frios e chuvosos. São Francisco é vermelha, guardamos a Golden Gate na alma. E Londres? Londres é azul como Candem Town, onde comi a melhor comida vietnamita de todos os tempos. Era vermelha, amarela e verde.
Amarelo
A camisa listada de azul, bege e verde estava aberta até o terceiro botão, o cabelo despenteado. O Buick, 1970, amarelo, brilhava ao sol. Uma corrente de ouro emoldurava seu pescoço gordo. Vestida de tomara que caia florido, Juliana parecia feliz. A porta do motel acabara de abrir, vejo o casal se beijando demoradamente, enquanto esperam os documentos.
Juliana aceita o alpino que atendente oferece, desembrulhando um para o Carlos. Saem alegres numa amarela manhã de sol. Acordo suada, aflita. Olho ao lado e vejo Carlos dormindo. É o terceiro sonho com a mesma temática esta semana. Resolvo tomar um banho quente. Fico dez minutos embaixo do chuveiro relembrando a cena. Pego o sabonete e me esfrego tanto, que a pele começa a ficar vermelha. Sinto nojo. Desço a escada com pressa, abro a porta da sala e saio em busca do sol. Não aquele cor de Buick, mas outro, novo.
22.6.06
Verde
Voltaire dizia que o casamento é a única aventura ao alcance dos covardes. Fico pensando nesta frase ao olhar meu cabelo verde no espelho retrovisor do carro. Faço um rápido balanço do feriado, enquanto tento esconder as faixas verdes no cabelo.
Sinto meus braços doerem e percebo que já não aguento pintar como antes. Mesmo acabada, estou feliz por ter uma parede verde mato na sala.
Quero voltar à cena do caixa e responder para a gorda mal amada que foi grossa comigo há 10 minutos. Não consigo, fique imobilizada ouvindo Otto no som do carro. Todos nós buscamos o carinho de um jantar romântico e mesmo cansada, fui comprar morangos, chocolate, gorgonzola e um vinho chileno. A noite prometia ser fria, com chuva fina e queda de temperatura, ouvi logo cedo no Bom Dia Brasil. Para mim, ela seria quente, doce e redonda como uma mangueira, que nos abraça com suas raízes largas e sábias.
Congelo o tempo e me vejo na fila do caixa de 10 volumes. A gorda está lá, lenta, com seu cabelo que um dia já foi loiro e hoje é desbotado e triste. O careca na minha frente, compra papel higiênico, três pães e uma lâmina de barbear azul. A senhora, acompanhada da enfermeira, passa uma caixa de leite desnatado e um pacote de gelatina de abacaxi. Ela deve ser diabética, pensei.
O jovem lobo de meia idade, magro de academia, paga um suco de uva light e um caneloni congelado light, de ricota, com uma nota de R$ 50. Em primeiro plano, na diagonal, vejo uma loira triste, pálida e grávida de uns cinco meses. Ela está inteira de bege -- bege não é uma cor para carregar um bebê, é muito triste e pastel. Ela compra um shampoo para cabelos descoloridos e um pacote de filé de pescada. Fico com vontade de conversar com ela, dizer para trocar por uma picanha vermelha.
Ufa, chegou a minha vez. Passo os morangos, o vinho, o primeiro queijo. A gorda seca meu cabelo com seus olhos sem brilho e diz:
-- O jantar de hoje promete?
Fiquei muda, envergonhada, quis deixar tudo ali e sair correndo sem olhar para trás. Ela deve ser covarde e acreditar em casamento. Decidi resistir e passar todos os itens calmamente. Ao entrar no carro percebo meu cabelo verde e também me dou parabéns por ter conseguido realizar o sonho de um feriado redondo, numa esquecida quinta-feira.
Vermelho
“Festa estranha, com gente esquisita, eu não tô legal”, lembrei-me automaticamente de Renato Russo. Para comemorar os 14 anos de Rogério, Amparo fez questão de preparar 100 hotdogs, deixando-os ao redor dos molhos. Os saches de ketchup ficaram arrumados em uma cesta de vime na mesa central.
A maionese, em cestas menores decoradas com crochê e dizeres: sirva-se. Nunca tinha entrado na casa de Amparo até aquele dia. Ela me recebeu afobada dizendo que não iria me recepcionar com pompa, pois estava pintando a parede da sala.
-- Vivo sem tempo, só de sábado consigo melhorar a aparência desta casa.
-- Mas fica à vontade, falou saindo carregando nas mãos um rolinho amarelo de espuma, de uns 20 cm. Fico ali vendo os porta-retratos de Rogério bebê, Rogério no campeonato de futebol da escola e agora na 8. série.
-- Como uma mãe se põe a pintar a casa no dia da festa do filho? Pergunto em silêncio.
Resolvi dar uma volta para ver a cor da casa. Apenas cinco meninos jogam videogame em uma TV preta, de 14 polegadas, improvisada para a festa. Ao fundo, Amparo, com seu cabelo todo respingado de branco, pois ela diluiu demais a tinta e agora a Suvinil látex escorre pelo rodapé.
Finalmente consigo entregar o presente. Ele abre, muito tímido, a caixa. Seus olhos, cor de jambo, brilham ao ver que ganhou um CD do Green Day, sua banda favorita. Trocamos dois beijinhos rápidos e ele convida os amigos e a mim para um saboroso hotdog.
As salsichas arrumadas como se fossem participar de uma maratona – todas dispostas lado a lado na travessa. Começo a comer. Seu Luiz, pai de Rogério, vem me cumprimentar. Ao se aproximar, ouço ele resmungando com Amparo.
-- Como os meninos irão comer com este cheiro de tinta fresca?
Ela nem responde, está em outro mundo, distante, com o olhar fixo na parede. Foi tudo muito rápido; ouço apenas Amparo gritando o nome de Rogério. Questão de segundos, Rogério explode um sache de ketchup na parede branco neve.
Vermelho sangue na festa de aniversário.
20.6.06
Remixaram o vinil
A estética new wave está de volta. O vinil, um dos materiais mais usados dos anos 80, presente nos chaveiros gorduchos da OP, carteiras, tênis, entre outros itens, voltou com força total. A Redley aposta suas fichas em confortáveis e coloridos tênis para a moda verão 2007. O estilista Alexandre Herchcovith já tem alguns modelos nas lojas. Isso me animou, logo cedo, a pegar meu vinil do New Order, colocar uma camiseta verde limão e dançar pela sala, lembrando da colorida época new wave. Erica Palomino conta mais sobre a volta do vinil. Leia mais
15.6.06
Eu quero minha passagem para Barcelona
A 13ª edição do Sónar, que começou hoje em Barcelona, está imperdível. Cadê minhas milhas? Onde eu as perdi? Os estilos estão tão ecléticos -- DJs, VJs e artistas multimídia -- que a organização escolheu universos antagônicos: de um lado, os ritmos negros, de outro, os sons do país que sintetiza a tecnologia, o Japão. São 604 artistas de 22 países, tudo embalado com muito reggae, jazz, hip hop, funk, dub e disco music. Já ouviram falar em Digable Planets, Linton Kwesi e Jeff Mills? Não percam tempo, procurem os mp3 deles no google.
Barcelona, que te adoro tanto. Já me vejo nos eventos do Sónar by Day, no agitado bairro do El Raval, com seus árabes bonitos, tipos estranhos e meninas que trabalham duro nas esquinas. A auto-estrada M2 sediará os eventos by Night. Se você, como eu, não acha sua passagem. Divirta-se pelo site Sónar
Barcelona, que te adoro tanto. Já me vejo nos eventos do Sónar by Day, no agitado bairro do El Raval, com seus árabes bonitos, tipos estranhos e meninas que trabalham duro nas esquinas. A auto-estrada M2 sediará os eventos by Night. Se você, como eu, não acha sua passagem. Divirta-se pelo site Sónar
Quadrado mágico
A neblina forte impedia que eu enxergasse a estrada. O frio me convidava a dormir mais. Não posso, preciso ir encontrar a loira. Chego cedo e as mesas da padaria já estão quase todas ocupadas. Ao meu lado, quatro executivas, com seus terninhos bem cortados, falam sem parar. Elas conversam sobre casamento; nenhuma delas havia ganhado algo de dia dos namorados. Não resisti e continuei ouvindo a conversa alheia, adoro, confesso.
Começam a comentar sobre o J. Leko, o jogador croata que jogou muito na terça-feira contra o Brasil. Nesta hora quis me aproximar da mesa e me apresentar, dizer que também fiquei com o J. Leko na cabeça, sintonia feminina. Mas continuo espiando apenas.
A japonesa, uns 37 anos, terno vinho -- a cor do inverno --, balança os pés constantemente e reclama, estressada, da falta de espuminha no café. Diz que quadrado mágico é o que ela tem em casa. Quatro filhos pequenos, sendo dois gêmeos.
-- Terça, durante o jogo, tive certeza que o Carlos me trai.
-- Todo homem começa o adultério pelo sms, torpedos animados etc. Ele passou o jogo teclando no celular. Só gritou pelo Kaká. Me disse que era o pessoal do escritório, depois ficou mexendo no celular enquanto comia os quibinhos que fiz para o jogo.
-- Vocês acreditam nisso?
-- E você vai fazer o quê, pergunta o terninho verde musgo?
-- Nada, vou para o banco, como o Ronaldo, peço um lanchinho e espero jogos melhores. Com um quarteto mágico em casa, não tenho estratégia, tenho estrelas que esperam a redenção.
Começam a comentar sobre o J. Leko, o jogador croata que jogou muito na terça-feira contra o Brasil. Nesta hora quis me aproximar da mesa e me apresentar, dizer que também fiquei com o J. Leko na cabeça, sintonia feminina. Mas continuo espiando apenas.
A japonesa, uns 37 anos, terno vinho -- a cor do inverno --, balança os pés constantemente e reclama, estressada, da falta de espuminha no café. Diz que quadrado mágico é o que ela tem em casa. Quatro filhos pequenos, sendo dois gêmeos.
-- Terça, durante o jogo, tive certeza que o Carlos me trai.
-- Todo homem começa o adultério pelo sms, torpedos animados etc. Ele passou o jogo teclando no celular. Só gritou pelo Kaká. Me disse que era o pessoal do escritório, depois ficou mexendo no celular enquanto comia os quibinhos que fiz para o jogo.
-- Vocês acreditam nisso?
-- E você vai fazer o quê, pergunta o terninho verde musgo?
-- Nada, vou para o banco, como o Ronaldo, peço um lanchinho e espero jogos melhores. Com um quarteto mágico em casa, não tenho estratégia, tenho estrelas que esperam a redenção.
12.6.06
Sarau do Saldanha
Nos dias 03 e 04 deste mês aconteceu, no Capão Redondo, periferia de São Paulo, o primeiro Encontro de Literatura Marginal. Organizado pelo escritor e rapper Ferréz, o evento reuniu autores e autoras, da Zona Sul da capital, na Barraca do Saldanha. Sérgio Vaz, Márcio Batista e Elizandra Souza, do jornal Becos e Vielas, prestigiaram o projeto.
Todo organizado em forma de sarau, Ferréz chamava ao microfone os escritores que recitavam poemas e textos. Quem precisa ter livro publicado para atingir seu público?
Todo organizado em forma de sarau, Ferréz chamava ao microfone os escritores que recitavam poemas e textos. Quem precisa ter livro publicado para atingir seu público?
Desplugada num final de semana de sol
A primeira sensação é de ansiedade, depois de vazio. Por motivos que só a Física clássica consegue explicar, fiquei sem telefone fixo, sem speedy e TV a cabo. O silêncio da casa era assustador. Percebi que não assisto TV aberta faz tempo. A voz do Faustão me irritava. Abri a Folha de S. Paulo e o jornal de domingo era um "dejavú" de sexta-feira. Desisti de encará-lo também. Como ficar sem os jogos ao vivo da Copa? Como não responder aos e-mails que tanto espero? Parece aquele dia sem energia elétrica, que fui dormir bem cedo. Até a cachorra está triste, deitada aos meus pés.
Engraçado isso. Resolvi, depois de desistir de brigar com o péssimo atendimento da Telefonica, ir cuidar das plantas. Coloquei terra nova e adubada nos meus vasos de antúrios, minha nova paixão. Ao entardecer fui arrumar as gavetas, os CDs etc. A lua cheia invadiu o céu do meu quarto. Fiz um chá de capim santo, colhido do meu quintal; coloquei Marisa Monte e fiquei olhando o céu. Sobrevivi bem sem a rede, só precisava olhar para o céu.
Engraçado isso. Resolvi, depois de desistir de brigar com o péssimo atendimento da Telefonica, ir cuidar das plantas. Coloquei terra nova e adubada nos meus vasos de antúrios, minha nova paixão. Ao entardecer fui arrumar as gavetas, os CDs etc. A lua cheia invadiu o céu do meu quarto. Fiz um chá de capim santo, colhido do meu quintal; coloquei Marisa Monte e fiquei olhando o céu. Sobrevivi bem sem a rede, só precisava olhar para o céu.
8.6.06
Democratização da leitura
Em 1º de Junho de 2006, o Instituto de Direito do Comércio Internacional e Desenvolvimento (IDCID), Organização Não Governamental (ONG) composta por docentes renomados, ajuizou Ação Civil Pública (ACP) contra a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR), sendo que desde então a mesma tramita perante a 5ª Vara Cível de São Paulo, Capital, sob os cuidados do Juiz Adevanir Carlos Moreira da Silveira. A ABDR, entidade representante de algumas empresas editorais brasileiras, desde 2004 implementa, em todo Brasil, atividades para evitar que estudantes e professores reproduzam, parcialmente, obras protegidas para fins educacionais, pesquisas acadêmicas e docência.
Desde então, o ato de fotocopiar passou a ser nivelado a uma infração penal gravíssima, e os professores e estudantes tidos como piratas, bárbaros e criminosos. Estas atividades se baseiam no argumento de que a reprodução de obras protegidas, mesmo que para fins incontestavelmente públicos, inibe o desenvolvimento cultural do Brasil. Será que a discussão não é mais ampla? E os livros esgotados e fora de catálogo? Como nós, educadores devemos proceder? Muitas Universidades começaram a estimular os docentes a produzir um pdf do capítulo. Ou seja, o problema sai, aparentemente dos Centro Acadêmicos e xerox, e passa para o docente, que além de infrator, também tem que ter scanner em casa e produzir arquivos digitais de livros?
Leiam mais sobre o assunto no site do projeto A2K
Desde então, o ato de fotocopiar passou a ser nivelado a uma infração penal gravíssima, e os professores e estudantes tidos como piratas, bárbaros e criminosos. Estas atividades se baseiam no argumento de que a reprodução de obras protegidas, mesmo que para fins incontestavelmente públicos, inibe o desenvolvimento cultural do Brasil. Será que a discussão não é mais ampla? E os livros esgotados e fora de catálogo? Como nós, educadores devemos proceder? Muitas Universidades começaram a estimular os docentes a produzir um pdf do capítulo. Ou seja, o problema sai, aparentemente dos Centro Acadêmicos e xerox, e passa para o docente, que além de infrator, também tem que ter scanner em casa e produzir arquivos digitais de livros?
Leiam mais sobre o assunto no site do projeto A2K
Você tem medo do quê?
Tanto na fotografia quanto na videoarte, Cláudia Jaguaribe opta por um registro documental de forma poética. A linguagem escolhida nessa individual é o vídeo, representado pela instalação Você Tem Medo do Quê? com projeções em telão e imagens exibidas dentro de uma caixa, baseadas em consultas ao público pela internet. O domínio que Cláudia têm da videoarte é um reflexo do trabalho pioneiro do argelino Fred Forest, cuja produção desde os anos 60 ganha retrospectiva.
Representante da chamada arte midiática, sua obra utiliza-se das mídias e meios de comunicação como jornal, telefone, rádio e internet, que resultam em instalações e ambientações.
Vale conferir:
Paço das Artes. Avenida da Universidade, 1, Cidade Universitária, 3814-4832. Terça a sexta, 11h30 às 19h; sábado e domingo, 12h30 às 17h30. Grátis. Até 16 de julho.
Representante da chamada arte midiática, sua obra utiliza-se das mídias e meios de comunicação como jornal, telefone, rádio e internet, que resultam em instalações e ambientações.
Vale conferir:
Paço das Artes. Avenida da Universidade, 1, Cidade Universitária, 3814-4832. Terça a sexta, 11h30 às 19h; sábado e domingo, 12h30 às 17h30. Grátis. Até 16 de julho.
7.6.06
O pai do "feuilleton" alemão
"Quanto a mim, eu passeio". Essa era a profissão de fé de Joseph Roth, o príncipe do jornalismo literário alemão. Estrela, nos anos 20, do estilo "feuilleton" (do francês, folhetim), Roth, segundo Alberto Dines -- autor do posfácio de "Berlim",livro recém-lançado pela Cia das Letras --, teve uma trajetória que foi um modelo de integração de jornalismo com literatura. Era um escravo da atualidade, afirma Dines.
No primeiro capítulo, "Sair a passeio", Roth descreve um dia de primavera em Berlim. Uma cidade muito diferente da atual, preparada e empacotada para a Copa do Mundo.
Num dos trechos mais fantásticos do capítulo, ele diz: (...) "O diminutivo das partes impressiona mais que a monumentalidade do todo. Já não tenho gosto pelos gestos amplos dos heróis do palco universal. Quanto a mim, eu passeio"
No primeiro capítulo, "Sair a passeio", Roth descreve um dia de primavera em Berlim. Uma cidade muito diferente da atual, preparada e empacotada para a Copa do Mundo.
Num dos trechos mais fantásticos do capítulo, ele diz: (...) "O diminutivo das partes impressiona mais que a monumentalidade do todo. Já não tenho gosto pelos gestos amplos dos heróis do palco universal. Quanto a mim, eu passeio"
4.6.06
Princesa Sofia ao som "Age of Consent"
Toda história tem uma música particular. Sempre acreditei nisso, mesmo quando gravava meu set list em fitas K7 e subia no telhado de casa, com meus 13 anos e meu walk-man ultra-moderno, para escrever loucamente roteiros não-lineares. Depois trocamos pelos disc-man – muito chique levar nossos CDs preferidos para outros telhados. Agora, levamos os nossos mp3 players ou ipods. Só mudamos de suportes.
A cada trajeto, encarado como solitário pela maioria dos anônimos, presos na Matrix do século XXI, nós, os que ouvimos música enquanto trabalhamos, dormimos, fazemos supermercado, dirigimos, ou estudamos para o vestibular, sabemos que a alma é sonora, não tem jeito. O áudio está presente em tudo. Solidão que nada, você que é linear e não percebeu que as conexões existem em tudo, nosso subconsciente faz isso o tempo todo, grande Freud já nos contou isso no século passado.
Sonoridade afiada é o que propõe Sofia Coppola em seu novo longa "Marie-Antoinette". Revisitar o palácio de Versalhes ouvindo "New Order" não é para todos, apenas os escolhidos, como Sofia. O festival de Cannes vaiou o roteiro enquanto assistia a deslumbrante Kirsten Dunst no papel de uma rainha Lolita. Que coisa mais linear olhar apenas o roteiro e não perceber que o filme todo se baseia na releitura que Sofia faz da França.
A cada trajeto, encarado como solitário pela maioria dos anônimos, presos na Matrix do século XXI, nós, os que ouvimos música enquanto trabalhamos, dormimos, fazemos supermercado, dirigimos, ou estudamos para o vestibular, sabemos que a alma é sonora, não tem jeito. O áudio está presente em tudo. Solidão que nada, você que é linear e não percebeu que as conexões existem em tudo, nosso subconsciente faz isso o tempo todo, grande Freud já nos contou isso no século passado.
Sonoridade afiada é o que propõe Sofia Coppola em seu novo longa "Marie-Antoinette". Revisitar o palácio de Versalhes ouvindo "New Order" não é para todos, apenas os escolhidos, como Sofia. O festival de Cannes vaiou o roteiro enquanto assistia a deslumbrante Kirsten Dunst no papel de uma rainha Lolita. Que coisa mais linear olhar apenas o roteiro e não perceber que o filme todo se baseia na releitura que Sofia faz da França.
Anjo com sardas
Quero sair correndo, dirigir até Santos, entrar no mar, comer queijadinha; conversar com o Leão Marinho da minha infância, visitar o aquário do Gonzaga. Me sinto Kundera em “A insustentável leveza do ser”. Nunca um percurso de 15 km demorou tanto. Já que não conseguirei entrar no mar, busco um prédio bem alto. Quero sentar e olhar a cidade lá de cima. Não estarei sozinha, meu anjo da guarda vai comigo. Ele anda cansado, tenho dado bastante trabalho.
No caminho lembrei-me de “O jardineiro fiel”, o último pacote de pipoca que dividimos. O filme falava de infidelidade e amor, engraçado. Ouço “Universo ao meu redor”, num Ipod emprestado. Hoje me sinto emprestada, em outro corpo, parece que não sou eu. Canto baixinho ...
Graças a Deus, um passarinho
Vem me acompanhar
cantando bem baixinho
E eu já não me sinto só
Tão só, tão só
Com o universo ao meu redor
Marisa Monte anda tão diva do jazz, deve ser a maternidade, penso comigo. Sento na cobertura do prédio, São Paulo aos meus pés. Me vi com 19 anos no bar Brahma, esperando por um amor roubado, tinha febre de tão apaixonada; salto mais de uma década e me vejo em Puerto Madero, Buenos Aires, naquele navio de Piratas – sempre achei-o assombrado. Não queria entrar novamente lá. Um barco de guerra, só com tripulação masculina, subterrâneos e passagens estreitas. Será que se eu não tivesse entrado novamente neste navio, nosso casamento teria sido salvo? O outro também afundou neste navio. Por que não ouço a minha intuição? Talvez fosse para entrar. Às vezes ela é uma intuição não-linear, desconexa.
-- Como pode alguém ter tantos flashbacks? Pergunto ao anjo, que apenas sorri, com sorriso largo, ele tem “sardinhas”. Todos os que têm sardas, pertencem à mesma galáxia, acredito nisso.
No caminho lembrei-me de “O jardineiro fiel”, o último pacote de pipoca que dividimos. O filme falava de infidelidade e amor, engraçado. Ouço “Universo ao meu redor”, num Ipod emprestado. Hoje me sinto emprestada, em outro corpo, parece que não sou eu. Canto baixinho ...
Graças a Deus, um passarinho
Vem me acompanhar
cantando bem baixinho
E eu já não me sinto só
Tão só, tão só
Com o universo ao meu redor
Marisa Monte anda tão diva do jazz, deve ser a maternidade, penso comigo. Sento na cobertura do prédio, São Paulo aos meus pés. Me vi com 19 anos no bar Brahma, esperando por um amor roubado, tinha febre de tão apaixonada; salto mais de uma década e me vejo em Puerto Madero, Buenos Aires, naquele navio de Piratas – sempre achei-o assombrado. Não queria entrar novamente lá. Um barco de guerra, só com tripulação masculina, subterrâneos e passagens estreitas. Será que se eu não tivesse entrado novamente neste navio, nosso casamento teria sido salvo? O outro também afundou neste navio. Por que não ouço a minha intuição? Talvez fosse para entrar. Às vezes ela é uma intuição não-linear, desconexa.
-- Como pode alguém ter tantos flashbacks? Pergunto ao anjo, que apenas sorri, com sorriso largo, ele tem “sardinhas”. Todos os que têm sardas, pertencem à mesma galáxia, acredito nisso.
Árida Lei
A rua estreita me angustiava. As pessoas feias também. Tudo era árido, marrom, desértico. Casas sem telhado, caixas d´água na cor azul estragavam o céu. Olhei em volta, só pobreza, muros pichados, mulheres arrastando os filhos para escola.
-- Aqui é o fórum? Perguntei para uma gorda que subia a ladeira.
-- É sim, respondeu com um olhar que engata uma pergunta: cadê o filho? Não veio pedir pensão? Só que ficou só no olhar, mas a pergunta veio no vácuo até mim.
A espera ocorria nos bancos da praça, colocados na calçada da edificação de dois andares. Sentei-me ao sol. Lembrei do dia que saí correndo para comprar um despertador, pois sabia que, a partir daquele dia, dormiria sozinha de novo, ninguém mais me chamaria para tomar café.
A vara de Família fica no piso superior, no térreo, a Criminal. Dejavú total. Vejo meu ex e a advogada num terninho rosa Barbie. Já vi esta cena antes, só que o cenário era mais bonito, prédio centenário, advogadas de preto, homens elegantes em ternos bem cortados. Gravatas Armani.
Claudia Fartollo, sala 3, grita o escrivão. O acompanho sem questionar. O tapete vermelho, disposto como em dia de casamento na igreja, cheira a mofo. A sala, com porta-dupla em mogno, tenta passar austeridade.
Ao entrar vejo o juiz em sua pose de Lei. Que jovem? Deve ser mais novo do que eu; com certeza sua primeira Vara. Ele se levanta e inicia a sessão. Percebo que sua beca é curta para ele. Que horror! Juiz feio e com beca curta. Mau presságio.
Todos começam por baixo, penso baixinho. Percebo o vaso com rosas vermelhas, de plástico. Dejavú novamente. Lembro do sábado que casamos pela manhã, num cartório feio, com balcão improvisado, toalha com etiqueta do Extra e rosas brancas, também de plástico.
Ele lê o processo, quer agradar e faz comentários sobre a importância dos pertences pessoais (livros, discos, revistas etc) para os jornalistas.
-- O casamento acabou? Os dois estão certos disto? Sim, responde Leopoldo Henrique. Já esgotamos todas as tentativas. Neste instante o tempo se congela.
Em segundos revi toda nossa história. A magia do encontro na água, o sabor do melhor beijo do mundo, da última temporada de beijos. Tudo começa a ficar turvo; vejo o juiz falando baixinho que a união não gerou filhos e isso era bom.
Percebo que tenho um estranho na minha frente. Percebo também que nosso roteiro chegou ao fim. Um final com paredes rachadas, juiz em início de carreira e uma fila de mulheres com filhos em busca de pensão alimentícia na sala ao lado.
Realmente vejo que não temos mais nada em comum. Ficou apenas a camisa, a calça, o cinto, o sapato – todos presentes meus – talvez até a cueca, mas essa não verei mais. Mas as roupas envelhecem como nós, um dia perderão a cor.
Tudo termina em dez minutos. Entro muda, assino e saio muda.
-- Aqui é o fórum? Perguntei para uma gorda que subia a ladeira.
-- É sim, respondeu com um olhar que engata uma pergunta: cadê o filho? Não veio pedir pensão? Só que ficou só no olhar, mas a pergunta veio no vácuo até mim.
A espera ocorria nos bancos da praça, colocados na calçada da edificação de dois andares. Sentei-me ao sol. Lembrei do dia que saí correndo para comprar um despertador, pois sabia que, a partir daquele dia, dormiria sozinha de novo, ninguém mais me chamaria para tomar café.
A vara de Família fica no piso superior, no térreo, a Criminal. Dejavú total. Vejo meu ex e a advogada num terninho rosa Barbie. Já vi esta cena antes, só que o cenário era mais bonito, prédio centenário, advogadas de preto, homens elegantes em ternos bem cortados. Gravatas Armani.
Claudia Fartollo, sala 3, grita o escrivão. O acompanho sem questionar. O tapete vermelho, disposto como em dia de casamento na igreja, cheira a mofo. A sala, com porta-dupla em mogno, tenta passar austeridade.
Ao entrar vejo o juiz em sua pose de Lei. Que jovem? Deve ser mais novo do que eu; com certeza sua primeira Vara. Ele se levanta e inicia a sessão. Percebo que sua beca é curta para ele. Que horror! Juiz feio e com beca curta. Mau presságio.
Todos começam por baixo, penso baixinho. Percebo o vaso com rosas vermelhas, de plástico. Dejavú novamente. Lembro do sábado que casamos pela manhã, num cartório feio, com balcão improvisado, toalha com etiqueta do Extra e rosas brancas, também de plástico.
Ele lê o processo, quer agradar e faz comentários sobre a importância dos pertences pessoais (livros, discos, revistas etc) para os jornalistas.
-- O casamento acabou? Os dois estão certos disto? Sim, responde Leopoldo Henrique. Já esgotamos todas as tentativas. Neste instante o tempo se congela.
Em segundos revi toda nossa história. A magia do encontro na água, o sabor do melhor beijo do mundo, da última temporada de beijos. Tudo começa a ficar turvo; vejo o juiz falando baixinho que a união não gerou filhos e isso era bom.
Percebo que tenho um estranho na minha frente. Percebo também que nosso roteiro chegou ao fim. Um final com paredes rachadas, juiz em início de carreira e uma fila de mulheres com filhos em busca de pensão alimentícia na sala ao lado.
Realmente vejo que não temos mais nada em comum. Ficou apenas a camisa, a calça, o cinto, o sapato – todos presentes meus – talvez até a cueca, mas essa não verei mais. Mas as roupas envelhecem como nós, um dia perderão a cor.
Tudo termina em dez minutos. Entro muda, assino e saio muda.
Assinar:
Postagens (Atom)